Injustiça
O 25 de Abril aproxima-se lentamente, ao ritmo de um dia por cada 24 horas que passam - mais coisa, menos coisa, a velocidade a que o planeta Terra, essa porção imensa de matéria, roda sobre o seu próprio eixo, pelo que... se calhar não é assim tão lentamente quanto isso. Pela trigésima vez consecutiva, o povo português prestará atenção e homenagem a esse dia esquisito que muitos - eu, por exemplo - celebram mais por hábito do que por convicção. Não é que eu não entenda o seu significado. Simplesmente não senti a transformação que se assinala, não vivi a revolução que se imortaliza anualmente e não sei de que tamanho terá sido o prazer nem qual o formato do êxtase de quem se sentiu livre pela primeira vez na vida.
Sempre que o 25 de Abril vem aí, lembro-me de uma palavra: injustiça. Não pelo 25 de Abril em si, nem pelo "antes" ou pelo "depois" - tanto no "imediatamente a seguir" como no "até agora" e o no "agora mesmo". Injustiça outra, por causa de Baptista Bastos, personalidade incontornável da intelectualidade portuguesa, com obra vasta, mas acerca da qual muito poucos conhecem para além daquela frase que o sustenta e há-de imortalizar: "onde é que tu estavas no 25 de Abril?" Caro Baptista, no 25 de Abril eu ainda não estava cá. Satisfeito?