Querida Guitarra
quinta-feira, junho 30, 2005
 



AVISO:

Objecto Musical Não Identificado aterrará aqui em baixo.

Dia 10 de Julho. Às 16h30.


 
quarta-feira, junho 29, 2005
  Sobre o ser humano - V
Nós, os humanos, e nós, os artistas, temos preocupações em comum. Não há quem não queira saber o quanto vale para os outros. E quem diz o quanto diz o como, de que forma se é valioso. Importarei muito ou pouco? Positivamente ou nem por isso? Com paixão ou desinteresse?

Parece-me que existem dois níveis para a mesma questão: o do humano, um ser racional-sentimental simplificado; e o do artista-criador, ser com uma composição mais elaborada, uma complexidade mais rebuscada.

E, neste caso específico - e raro! -, tenho a impressão de que o humano leva a melhor sobre o artista. Senão, vejamos: a preocupação do mortal banal normalizado prende-se, a este nível, com a importância que tem para o mundo que lhe interessa, isto é, para os que lhe são próximos. É uma situação mais confortável e, acima de tudo, mais compensadora do que a situação de um artista. O mundo que interessa ao artista é o próprio mundo, o planeta todo, a humanidade no seu conjunto - a presente e a vindoura.

Trocando por miúdos, se ao humano simplificado e humilde lhe basta saber se a mãe se orgulha dele ou se a mulher o despreza, ao artista importa-lhe ter a consciência de que a Humanidade o admira e venera, inspirando-se em si e na sua energia para enfrentar as agruras do dia-a-dia. E é aqui que chegamos à parte do conflito de interesses.

Se repararem, as perspectivas não são propriamente paralelas - o humano básico não existe numa dimensão à parte da existência do nobre artista. Existe uma espécie de rota entrecruzada num movimento perpétuo que, por vezes, pode implicar colisões. Isto porque, se a interdependência entre nobre artista e pessoa lisa existe, esta existência não é equilibrada.

Façam-se as contas: o artista precisa de todos os humanos. Já os mortais regulamentares necessitam apenas dos seus semelhantes próximos. Não que não necessitem de ídolos. Mas os ídolos não lhes são fundamentais para a consumação da existência - e os mortais simplificados são fundamentais para a existência do artista realizado. Os artistas são apenas muletas que ajudam o povo vácuo a fingir que a sua realidade até é interessante e que não são frustrados a caminho da morte, num processo lento, arrastado e, eventualmente, triste, que não terá valido a pena. E isto é um jogo desleal! O reconhecimento nunca é verdadeiro, mas antes efémero, pontual e interesseiro.

Termino com um exemplo: imaginem que sou assassinado, em segredo, por uma fã lunática que, depois de disparar sobre o meu valioso crânio (três vezes, "pelo sim, pelo não"), decide amputar-me "vários órgãos" para guardar em casa, só para poder exercer sobre algumas partes minhas uma solitária e libidinosa contemplação. A polícia descobre, porque uma vizinha, que também é fã e é invejosa e mesquinha, tudo faz para descobrir que poderoso objecto é aquele que a primeira venera e que se encontra barbaramente erigido sobre o pequeno altar em que transformou a mesa de cabeceira; descoberto o mistério, com choque e achaques, a mesquinha da frente liga para a polícia e esta, em decidida diligência, arromba a porta da casa da primeira e descobre o que de mim sobra a fazer as vezes do candeeiro, por cima da gaveta das peúgas. Mas sem dar luz. A macabra e, ao mesmo tempo, sensual descoberta faz aberturas de telejornais e capas de diários que não sejam especializados em economia.

É aqui que chegamos ao ponto de colisão. Quem não tem mais o que fazer a não ser andar infeliz e miserável, como é apanágio da pessoa inócua, sofre com o meu desaparecimento, lamenta e carpe a minha partida prematura. Mas, de entre estes mortais ruins, há sempre quem se desconcentre com facilidade. Basta, por exemplo, que se lhe avarie um electrodoméstico.

Regressando ao prédio das duas fãs, suponhamos que também lá habita, no andar de cima, uma família corriqueira, com suas tramas, desinteresse, bibelôs, traições e faltas de dinheiro imensamente vulgares. Eis que se lhes avaria o frigorífico e ficam as costeletas de porco à beira de um perigoso descongelamento. Isto, à mesma hora que as câmaras das TV's e dos repórteres fotográficos lhes invadem o prédio para testemunhar e documentar a descoberta de uma pedaço mui cobiçado do corpo do martirizado Guitarrista Famoso. Achais, ó povo básico, que esta gente se vai enlutar por mim? É o enlutas! O que lhes importa é salvar as costeletas. O que os preocupa é que não têm dinheiro para pagar o arranjo do electrodoméstico. O que os inquieta é que têm que pedir esse dinheiro emprestado à vizinha da frente, autora da denúncia. O que os lixa é que ela está ocupada a dar entrevistas em catadupa a uma vara de jornalistas que a circundam famintos. O que os exalta é que ela nunca mais se despacha. O que os agita é que ela não se preocupa com isso. O que os exaspera é que as costeletas estão á beira de um desfecho trágico. O que, por fim, exclamam é "mas por que é que este cabrão tinha que morrer hoje?!"

Perceberam a ideia?
 
terça-feira, junho 28, 2005
  Correio dos leitores
Escreve-me, da Carapinheira, Ildebrando Jesus. E diz assim, a propósito do post "Sobre o ser humano III", de 23 de Junho, dia de S. João:

"Ná, não colhe. Repara que a questão da responsabilidade não é, aqui, despicienda. As pessoas que te aplaudem são, elas próprias, humanas e sujeitas aos mesmos processos. No momento da combustão, elas sentirão o calor, compreenderão o conceito de combustão e aceitarão (ou não) a sua morte em face do conhecimento que têm dos efeitos desta (combustão, claro). É a combustão que as mata, não és tu. É a combustão - e o ancestral medo que a acompanha - que lhes servirá de epitáfio, não a tua actuação.

A solução para o teu problema começa na escolha do local: o estádio da Luz é grande demais. Uma sala mais pequena será necessária, tipo Santiago Alquimista, ou assim. Começas por ingerir uma quantidade razoável de explosivo plástico C-4 (um quilo ou dois devem chegar) e um detonador controlado via rádio. Posto isto, e porque se deve cuidar dos detalhes, sobes para uma plataforma elevatória e começas um dedilhado suave e melodioso (um leve chorus e algum delay são recomendáveis) que obrigue as pessoas a baixar a guarda, colocando-as em estado de receptividade absoluta a todas as sensações que virão. Em seguida, desces a plataforma elevatória (contigo em cima) sobre um recipiente amplo cheio de azoto líquido (-153º C) que te congelará instantaneamente. O horror da assistência por te ter perdido será indescritível e absoluto, concentrando nesse momento toda a sua capacidade sensorial. Como se trata de um processo que não apresenta a tua morte como um facto irreversivelmente consumado, haverá tempo para o passo seguinte, enquanto o público tenta ordenar e integrar conceitos, eliminar hipóteses e concluir que acabaste em definitivo. O último toque será a detonação do explosivo em ti, projectando partículas sólidas e congeladas de ti em todas as direcções, como minúsculos projécteis que matarão toda a gente na sala. Aos olhos das pessoas, crescerás por uma fracção de segundo, até entrares literalmente por elas adentro. A desintegração do teu corpo será o remate definitivo, a afirmação cabal da tua morte. Para a tua assistência, tu terás morrido para elas (porque foi à sua frente), com elas (porque morrem em simultâneo) e nelas (os pedaços de ti que se alojam nos seus corpos etilizados). Por Cristo, com Cristo e em Cristo, na unidade do Espírito Santo - a Santíssima Trindade invertida, o artista que oferece a sua Divindade tácita ao público, no supremo sacrifício que é a morte. Morrem santos, finalmente reconhecidos/investidos das qualidades divinas que procuraram durante a sua vida e logo pela mão daquele que indevidamente divinizaram. Moisés regressado da Montanha e denunciando os falsos Deuses criados pelos Homens, mas com a abnegação adicional de se denunciar a si próprio, expiando o seu pecado ali mesmo e recolocando o Homem no seu lugar da Criação."

À parte o facto do sr. Jesus me tratar por tu, como se tivéssemos andado juntos na escola da Abrunheira, achei bonita esta missiva e decidi publicá-la. Obrigado Ildebrando.
 
  As ideias por trás das letras por trás das músicas
100% (Sonic Youth)

"I can never forget you - the way you rock the girls
they move a world and love you - a blast in the underworld
I stick a knife in my head - thinking 'bout your eyes
but now that you been shot dead - I've got a new surprise

I been waitin' for you just to say
he's off to check his mind
but all I know is you got no money
but that's got nothing to do with a good time

can you forgive the boy who - shot you in the head
or should you get a gun and - go and get revenge?
a 100% of my love - up to you true star
it's hard to believe you took off - I always thought you'd go far

but I've been around the world a million times
and all you men are slime
it's goin' to my head, goodbye I am dead
wastewood rockers is time for cryin', hey!"



Para começar, comecemos pelo que a música nos dá de melhor: afagamentos na auto-estima. Quando ouço esta monumental canção twistedly pop dos Sonic Youth, praticamente fico comovido. Como, meus amigos, como é que estes quatro malucos lá da América se lembram de ter a decência e a generosidade de me dedicar uma música? É formidável.

Logo a abertura "I can never forget you - the way you rock the girls"... só de ler isto até me arrepio. Um retrato fiel da minha pessoa, sim senhor. É por estas e por outras que os Sonic Youth são uma das minhas bandas preferidas. Claro, a Kim Gordon também ajuda.

 
sexta-feira, junho 24, 2005
  Sobre o ser humano - IV
Em cada ser humano existe a noção global de Humanidade. É uma permissa optimista, bem sei. Mas, como já afirmei, eu olho para as coisas de um modo harmonioso, positivo. Existindo esta noção, dispara-se em cada pessoa um automatismo que faz com que nos sintamos responsáveis pela espécie humana, pelo conjunto total de seres semelhantes a nós que povoam este recanto ambíguo do universo. Ora, estas tentativas automatizadas de auto-responsabilização pelo todo não passam de um reflexo instintivo. O altruísmo é uma falsidade animalesca: o ser humano não troca, racionalmente, o seu bem estar em prol de toda a espécie ou mesmo de um determinado grupo - exceptuando se esse grupo se tratar da própria família e isto apenas em alguns casos. O conceito "a minha vida pela dos outros" é uma animalidade. O mártir voluntário não passa de um simbolismo antiquado - noutros tempos, o ser humano não valorizava a própria vida; acreditava nas recompensas da vida eterna, etc. Hoje em dia isso não é nada assim. Desde O Clube dos Poetas Mortos e da generalização da expressão carpe diem, o ser humano com acesso aos cinemas e, mais tarde, à televisão, quando a RTP1 passou a exibir regularmente o filme, deu mais um passo gigante em direcção à iluminação final. Do fétiche populista "a minha vida pelo meu povo" passou-se ao conceito atinado e egoísta "a minha vida é porreirinha, deixa-me cá aproveitar antes que envelheça e/ou adoeça". O egoísmo honesto é a salvação do ser humano enquanto indivíduo em busca da plenitude.

Para ilustrar, passo a exemplificar. O problema das minas anti-pessoais em Angola. O ser humano normalizado olha para as tragédias do povo angolano, ao ver o Telejornal ao jantar, e pensa "geee... que chatice". Isto é bom, acreditem. Se fosse na Idade Média - supondo que na Idade Média podia existir televisão e noticiários, mesmo sem electricidade -, um gajo era capaz de ver as imagens e dizer "epá, eu dava a minha perna direita para que Deus acabasse com as minas antipessoais em Angola e esta tragédia terminasse já hoje". Imaginando que Deus cumpria a sua parte, e supondo que falamos de gente honesta que cumpre com a sua palavra, e tendo ainda em conta que isto eram tempos em que esta epécie de noção de martírio altruísta era praticamente uma banalidade, estaríamos perante um eminente movimento de massas perigoso; a tragédia humanitária poderia atingir números ainda mais catastróficos do que os da Angola presente: da China à Austrália, passando por Canadá e Portugal, a quantida de de gente amputada da perna direita seria, seguramente, superior aos números hoje em dia registados nesse belíssimo e tão mal-tratado país da África austral. É o que dá o "altruísmo" à moda antiga.

Hoje em dia, o altruísmo deve ser egoísta. Por exemplo, nós, os artistas, quando queremos acabar com as minas antipessoais em Angola, fazemos um mega-concerto com várias mega-bandas para angariar fundos a aplicar na causa. No caso, a desminagem de Angola. Uma coisa tipo Live Aid. Ou seja, não é que uma pessoa não queira acabar com o flagelo. Mas fá-lo de uma forma egoísta, ou, se quiserem, de uma forma "altruísta-contemporânea", e, ao contribuir para a causa, aproveita-se para confraternizar com o Bono Vox ou o Chris Martin. Isso, sim, é subir uns patamares na imensa escadaria que liga o ser humano à infinita divindade. Eu não troco a minha perna direita pelo fim das minas antipessoais em Angola; mas sou capaz de tocar umas canções a custo zero e assim contribuir para a causa. É bonito ver como o ser humano evolui e deixa, aos pouco, de ser arcaico e contraproducente.
 
quinta-feira, junho 23, 2005
  Sobre o ser humano - III
Na raíz das pessoas está uma vontade imensa de evitar o esquecimento. Contornar o desaparecimento da memória e da percepção dos outros. E é por isso que as pessoas insistem em acordar e em mover-se, diariamente, por mais que o quotidiano lhes seja igual; por mais que a efemeridade das coisas, do tempo e do próprio espaço que existe agora, se lhes apresente configurada no cérebro como certa. No fundo, e numa perspectiva inspirada na delinquência do nascimento humano, os homens existem porque querem. E quanto mais existem, mais desejam existir, sempre assim, por aí adiante, até que se insatisfazem permanentemente e passam a acordar ainda mais irados, perseguindo a arquidelinquência do dia em que vieram ao mundo: aquele dia vazio, com tudo por preencher. O problema surge com o preenchimento desse tal vazio inicial. Com a aglomeração dos sentimentos, dos conceitos e dos conhecimentos, o ser humano passa a gerir um frágil leque, que se emaranha no seu íntimo. Esta gestão deve ser ternária: sentimento, remissão ao conceito, aplicação do conhecimento. Sempre assim, numa espiral a caminho da divindade, isto é, a prestação final. Há quem lhe chame morte.



Mas eu, que sou positivista, acredito que seja um mega-concerto no Estádio da Luz, com as bancadas a abarrotar de gente que grita "Gui-ta-rris-ta! Gui-ta-rris-ta! Gui-ta-rris-ta!" Será então que me insatisfaço, porque me apercebo da efemeridade de todos aqueles seres humano. Fico com medo de ser como eles. Concebo esse medo e, como tenho conhecimentos para aplicar, descarrego-os numa guitarrada poderosa. A multidão incendeia-se e, a julgar pelo magote de corpos em combustão, eu, a banda, os roadies e a produção, mais os stewards, que os deve haver, morremos todos intoxicados.



Reparem agora: não só o momento será histórico e ficará para a posteridade como, com habilidade e uma pontinha de sorte, serei o responsável pelas últimas imagens e sensações nos corpos e cérebros de milhares de pessoas. Se isto não é contornar o desaparecimento da memória e da percepção dos outros, é o quê entãp? Ok, pronto, chamem-me génio.
 
  Sobre o ser humano - II
Penso na imortalidade da minha obra e concluo: Guitarrista, tu foste longe demais. A mortalidade faz parte da essência das coisas humanas. Sendo eu humano, a obra é fruto da minha humanidade. Logo, deve ser mortal, como os homens, como eu. A não ser que me paguem.













































 
quarta-feira, junho 22, 2005
  Sobre o ser humano - I
Uma questão que hoje em dia se vê arrastada em longos debates durante as tertúlias do rock'n'roll - que também as há, embora com linguagem menos cuidada e conceptual que a utilizada nas tertúlias filosófico-literárias - é a do "bom ser humano". E eu, haja debate, que não me abstenho. Eu sou um chamado "positivista". Porque defendo - porque acredito! - que o artista do rock, tal como alguns outros artistas, pode ser um ser humano positivo.

Reparem que, para quem frequenta o meandro, esta é uma teoria difícil de engolir. Primeiro porque definir um ser humano positivo não é fácil. O que é isso agora de um gajo ser positivo? Lendo tudo de seguida, sem intervalo entre as palavras, até fica a ideia de ser uma pessoa com uma doença infectocontagiosa. E das graves, caramba! E não é nada disso. Um ser humano positivo é um gajo que merece uma estátua, não tanto pelo que deixa para a História vindoura, mas antes pelas memórias e sentimentos que espoleta nos que o rodeiam - desde que estes dois iténs sejam positivos, obviamente.

Agora, fica a pergunta: que artista prefere que se lhe erija um monumento pelas qualidades humanas, em detrimento de um obelisco vistoso que lhe assinale os talentos e a vida de criações? Será que esse artista existe? A existir - e eu acredito que exista -, será tão raro como um baixista competente e disponível.



(Este baixista não é mau; para cúmulo, está indisponível. Muitos como ele pululam por essa América fora. E em Portugal também. Raros são os que prestam e querem ensaiar, na boa.)
 
segunda-feira, junho 20, 2005
  Na máquina do tempo do José Hermano Saraiva
(Não. A Máquina-do-tempo é do Hermano Saraiva. Não é "uma máquina do tempo do Hermano Saraiva". Esta é mais recente.)



I know you know I know you know
What is the truth what is the truth who knows
You know she knows they know we know
What is the truth what is the truth who knows
I do do you will you won't you
What is the truth what is the truth to you
Will you won't you do you don't you
What is the lie give it a try won't you

I know nothing you don't know
Don't get me wrong don't get me wrong
Don't get me

Love me shove me kiss me hug me
What is my love what is my love tell me
Fuck me kick me suck me hit me
What is a fuck what is a fuck tell me
Take it shake it bend it break it
What is my life what is my life take it
Thrill me kill me fill me make it
What is the truth what is the truth fake it
See me be me hear me fear me
What is the truth is the truth near me
School me fool me rule me drool me
What is the truth what is the truth full me
Can you can't you do you don't you
Hear my reply don't ask me why will you
Help me leave me feed me bleed me
Need me to lie what is a lie tell me

I know nothing ....

I know you know I know you know
What is the truth what is the truth who knows
He knows she knows they know we know
What is the truth what is the truth who knows
I do do you will you won't you
What is the truth what is the truth to you
Will you won't you do you don't you
What is a lie give it a try won't you

I know nothing ....

Alguém se lembra disto? Clawfinger, Deaf, Dum and Blind. O tema chama-se... Don't Get Me Wrong, claro, está lá escrito no refrão. Eu lembro-me deles. Ainda me lembro deles. Das festas na escola, grandes malucos, a pé até às onze e tal da noite, a tentar perceber como é que se fuma um charro e que raio de efeito isso produz...

Hoje fiquei comovido. Não é que os velhos e, ultimamente, incógnitos Clawfinger nos visitam na próxima 6ª feira, na abertura do Festival da Ilha do Ermal?! Epá, quando eu li isso, até me iam caindo as lágrimas. A sério. Se aparecessem lá outros nomes como Ugly Kid Joe, para cantar o Everything About You, Cranberries, e o seu Zombie, Rage Against the Machine, e o Killing in the Name... reunia logo a turma toda do sétimo ano e fazíamos uma festança brava. Acreditem, pá: nesses tempos, até Red Hot Chilli Peppers eu curtia, era uma festa. Agora não.



Hi, we are Ugly Kid Joe and you're reading... ka... kaurida... guetaura... kaurida guetaura. Fuckin' name, man. Yeah. Uh.



MO - DA -FA - CKEEEEEEEEEEEEEEEEEEERS!... C'mon. (Zack de la Rocha)



Hi, I am Dolores O'Riordan - is this how we spell it "O'Riorda"? Ok - Hi, again, I'm still Dolores O'Riordan - yeah, this one in the left, shinning above them all -, and we are cranberries.
 
  Calma, calma, calma.
Sim, estou de volta.




Não tarda muito, faço um post.
 
quarta-feira, junho 08, 2005
  Músicos freak


"olha a perninha, a perninha da menina
olha a perninha, a perninha a dar a dar
cabeça não tem juízo
e a perna é que vai pagar"


Pergunto-me eu: quem não tem saudades de Pedro Barroso, ícone proto-pop maior do pós-25 de Abril? Comuna, sem dúvida, mas muito boa pessoa. Dizem. Na foto, numa festa em casa do Ary dos Santos - uma dessas também elas saudosas tertúlias que se realizavam em sítio incerto, para a PIDE não as encontrar -, o velho Pedro estava mais magro. Pudera! Era do regime. Findo o regime, engordou revolucionariamente. Não é de admirar que, hoje em dia, de cada vez que um Zé Mário Branco, um Fausto ou um Janita Salomé se mete com ele "ó Barroso, andas gordo e lustroso", o Pedro responda, barbuda e barrigosamente, "fazia cá falta era o Salazar". Depois riem-se, em gargalhadas de intervenção, até cairem cada um de sua cadeira. Ainda hoje é assim.

"mas da seara cortada fez-se farinha
dessa farinha com fermento fiz o pão
ficou-me ao peito essa trigueira rainha
que me roubou a alegria
ao meu canto e coração"


Que bonito.
 
segunda-feira, junho 06, 2005
  A vida não é só tristezas
Isto, uma pessoa não pode ficar a vida toda a pensar nas coisas tristes. O mundo anda cheio de coisas boas. Especialmente porque está um calor bravo e as pessoas tendem as desmascarar-se de invernices, expondo com mais à-vontade determinados assuntos. E também há os caracóis e as imperiais, naquela esplanda ali na Tomás Ribeiro, onde vou rumar já de seguida, assim que acabar o post. Tudo isto só para dizer uma coisa simples: sosseguem os que se apoquentaram. Com tanta coisa positiva que há no mundo, o Guitarrista não podia ficar quietinho. A anhar, como agora se diz muito.



(Esta mulher tem muita pinta.)

Olhem, uma coisa muito fixe foi um concerto que fui ver, sábado à noite, a convite do Sr. Funda: a Anamar e seus rapazes, ao vivo, no Salão Nobre do Teatro Nacional D. Maria II. Transfado é o título perfeito para o trabalho apresentado - uma linguagem musical transversal, do tango ao flamenco, passando pela coladera ou até, imagine-se!, pelos aromas jamaicanos (aromas musicais, entenda-se; ali é proibido fumar, até diz no bilhete), tendo como ponto de partida (ou de chegada) o fado. Anamar é uma mulher inteira, mexida, vivaça. Um convite ao pecado. Se tivesse menos quinze anos e fosse solteira, não sei se não tentava a minha sorte. Autêntica diva de cabaret, com gestos de Dietrich, voz de Piaf e cigania no sangue, Anamar fez por merecer os aplausos de pé no final de uma noite que ainda ia no começo. Agradeço ao Sr. Funda o generoso e bem oportuno convite. Como vêem, não se deve ficar muito tempo a pensar no lado negro da vida. Há que encarar o futuro de forma positiva, com fé, esperança e vigor. Porque a vida vale a pena.



(Se Dietrich fosse viva, de certeza que teria gostado de ver a Anamar. Eu gostei.)



(A voz de Anamar faria lembrar a de Edith Piaf, se esta ainda cantasse.)
 
quinta-feira, junho 02, 2005
  Sobre esta estranheza
Não sei ao certo se deva dizer alguma coisa. Nem estou seguro de que alguma coisa que se diga faça algum sentido ou, pelo menos, assuma um significado suficientemente digno. Porém, sinto vontade - necessidade básica, entre a espiritual e a fisiológica - de comunicar algo aos outros. Pelo sim, pelo não, e para que as palavras não me saiam erradas, trôpegas ou distorcidas, recorri aos mestres. Faço das suas palavras as minhas, embora cada um sinta apenas o que sente. Chamem-lhe empatia lírica.

Procession moves on, the shouting is over,
Praise to the glory of loved ones now gone.
Talking aloud as they sit round their tables,
Scattering flowers washed down by the rain.
Stood by the gate at the foot of the garden,
Watching them pass like clouds in the sky,
Try to cry out in the heat of the moment,
Possessed by a fury that burns from inside.

Cry like a child, though these years make me older,
With children my time is so wastefully spent,
A burden to keep, though their inner communion,
Accept like a curse an unlucky deal.
Played by the gate at the foot of the garden,
My view stretches out from the fence to the wall,
No words could explain, no actions determine,
Just watching the trees and the leaves as they fall


(The Eternal. Joy Divison, Closer)
 
A música vista por dentro. A vida tocada em guitarradas ruidosas. Cuidado com o feedback.

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