Lembrança
Aqui há uns tempos, ainda eu tinha miúda, essa miúda viajou para fora do país, durante uns dias. Fiquei triste. Um dia ela ligou-me, como fazia todos os dias, e pediu-me para, quando chegasse, eu tivesse para ela "uma lembrança". Decidi compôr uma música e dedicar-lha. Era uma balada muito bonita, coisa simples, dedilhada em ré-maior/sol-maior/dó... Resulta sempre com as miúdas. A letra dizia assim:
"Come, hurry up
hold me, take me,
i'm your greatest prize
i'm your tender surprise
you must not expect
life expectancy
to come and tell you
you're too old"
Fui esperá-la ao aeroporto, de guitarra às costas. Nem levava papel, decorei a letra de propósito. Ela chegou e, mesmo antes de nos beijar-mos, toquei e cantei para ela, à frente das outras pessoas.
O pai dela riu-se. A mãe, que se chamava Antónia, coitada, fez má cara, franziu o sobrolho. Quanto a ela, a Maria João - era assim que se chamava -, esperou que eu terminasse e só se riu no fim. "Que merda de letra é essa?", foram as últimas palavras que ouvi daquela boca carnuda e bem desenhada. Aparentemente conheceu um estrangeiro que compunha melhores baladas.