Melhor diálogo do fim-de-semana
(Conversa pouco pertinente e ainda menos provável, contudo verdadeira. Sábado, noite de 8 para 9 de Maio, Santos, Lisboa. Conheci a Vera. Bebemos cerveja em copos de plástico.)
(Vera): A seguir, quando sairmos daqui, o que fazemos?
(Eu): Hummm... isso é alguma pergunta com rasteira?
(Vera sorriu)
(Vera): Não, a sério... podíamos tipo ir... sei lá... ao Plateau ou ao Kremlin.
(Eu, em blusão de capuz, calças de treino reprovavelmente salpicadas do jantar e ténis de futebol): Duvido que me deixem entrar.
(Vera): Humm... talvez dê.
(Eu): Achas?! (Eu, olhando-me a mim próprio, dos pés à cabeça... ao peito, não consigo ver a minha própria cabeça) O porteiro vai-me olhar com ar de reprovação e desdém, após o que exclamará num tom forçada e falsamente educado "Não posso deixá-lo entrar, o seu traje é demasiado... desportivo".
(Vera): Como é que sabes que ele te vai dizer isso?
(Eu): Já fui porteiro no Kremlin.
(A Vera olha para mim, incrédula, hesita e, finalmente, ri-se muito. Percebeu a piada.)
(Eu, sorrindo suavemente, mantendo a calma, fazendo uso do meu charme discreto e bem disposto. No fundo, é uma expressão vitoriosa mas comedida. Vi isto num filme.): Acho que não vale a pena perder tempo à espera na fila... além disso, são quase 4 da manhã. Pagar consumo mínimo a esta hora é quase um crime.
(Vera): E tu não conheces ninguém num desses sítios?
(Eu): Eu?!
(Vera): Sim, como és todo do rock e não sei quê... às vezes, tipo... as pessoas conhecem-se.
(De início, fiquei apreensivo com a expressão "todo do rock e não sei quê". Descansei após fazer "refresh" à minha percepção das coisas, concluindo que, afinal, a Vera vive na Malveira.)
(Eu): Pois... talvez algumas pessoas ali dentro já tenham ouvido falar de mim. Mas, sabes, (aqui decidi introduzir uma linguagem que ambos pudéssemos compreender) eles é mais outra onda, uma cena mais tipo... techno e isso. House?! Drum'n'bas... e... cenas assim... acho eu.
(Vera, rindo. Era capaz de jurar que ela ria por compaixão): Deixa lá isso. Quando sairmos daqui, vais ali abaixo pagar um copo à roulote...
(Eu, vitorioso e sereno): Não pago copos a roulotes.
(Pausa gélida na conversa. Sobrolho esquerdo da Vera presetes a tocar o tecto do bar. Noite escura e fria. Erro no sistema.)
(Vera, séria): Tu não bates muito bem, pois não?
(Não percebeu a piada. Regresso a casa assobiando qualquer coisa distraída para afugentar a solidão.)