Em playback
É uma modalidade artística intemporal.
Antes de continuar o texto, gostaria de deixar aqui uma sugestão inovadora: nos bares em que existe aquela outra modalidade nipónica que, parece, veio para ficar, o karaoke, não será boa ideia fundir as duas formas de expressão artística? O karaokista a fazer playback evita a má figura (ou, pelo menos, atenua-a). E os clientes sossegados e pacatos, como eu, podem beber as caipirinhas em paz, sem serem incomodados pela esganissez de uma voz feminina arraçada de buzina ou pela tremenda falta de senso melódico e noção de nota de uma voz masculina, com garganta mas sem ouvido. Isto é só uma ideia.
Voltando ao Playback, é, como eu dizia, intemporal. Desde que há gravadores de bobinas que os mais inseguros artistas garantem presenças não-muito-lamentáveis em directos televisivos recorrendo à prática do nosso objecto de estudo. Já cantava o saudoso Carlos Paião que, em playback (fazer asss-sim com a cabeça), ninguém vai desafinar... Isto, para o comum dos mortais, porque, como se sabe e se pôde ver com razoável facilidade, mega-estrelas conseguem o impossível: até fazer tristes figuras, mesmo fazendo playback.
Brittney Spears, paradigma da mega-estrela que consegue o impossível (inclusive, ser considerada sex simbol... alguém me explica porquê?) não deixou créditos por mãos alheias e, do cimo do seu carro alegórico, julgou-se rainha carnaval de Ovar (estive mesmo para dizer Mealhada...), limitando-se a acenar para a multidão portuguezinha (mesmo: 90% eram menores de 16 anos), não ligando cavaco sequer às palavras que supostamente articulava para encher com imagem o som que jorrava (jorrava, mas a esguichos...) das colunas do Maior Festival do Mundo. Fez má figura. Com uma agravante: isto não era karaoke. Se fosse, teriam sido apenas umas dezenas de pessoas a ver e, no meio das caipirinhas, quem é que se ia ralar?
Querida Brittney: não, não sou teu fã. Já fui fã de adolescentes e de girls-bands que fazem versões por cima de melodias mais velhas que o Compay Segundo quando ouvia Ministars e Onda-Choque (era assim que se escrevia?... Acho que não.). Mas, hoje em dia, tento ouvir música a sério feita por pessoas de carne e osso que sabem e sentem o que fazem. No entanto, senti alguma compaixão pela tua figura desamparada no cume do andaime com rodinhas. Eu compreendo-te. Eu também sofro de vertigens.