Uma questão de fama
Está bem, pronto. Talvez eu não seja assim tão famoso como o Phil Collins. Mas sou mais novo e tenho dificuldades em exprimir-me em inglês. Portanto, é natural que o Phil Collins seja mais conhecido que eu. Vendo as coisas nesta perspectiva, ele tem uma língua mais internacional e mais anos pelos palcos, a andar daquela maneira esquisita, como se quisesse marchar, ou coisa, assim, mas nunca ninguém lhe tivesse ensinado - ele sobe degraus assim, ele dança assim, ele afaga a cintura das meninas do côro da mesma forma, enfrenta as canalizações de toda a secção de metais que o acompanha usando o mesmo jeito. Parece que desde que gravou aquela "I can't walk, I can't dance" começou a caminhar de uma forma estranha (será a letra baseada numa história real? Investiguem). Só quando toca bateria é que o simpático e a puxar-para-o-roliço Phil consegue parar de executar aquela marcha esquisita. E toca bem. A bateria, digo.
Tenho que desabafar convosco: sábado passado entrei no estádio de Al... Alv... hrum... ade... hram... aquele verde e... das outras cores, que tem nome de carreira de autocarro. Não, que não vos passe pela cabeça que paguei 50 euros para ver o velhote. A Caixa Geral de Depósitos (PUB) teve a bondade de me oferecer quantos bilhetes "eu quisesse". Assim mesmo, os que "eu quisesse". E não foi só a mim, pois outras pessoas que conheço tiveram direito à mesma oferta. Curisoamente, no estádio estavam 35 mil pessoas. Isso é muita gente, pensarão vocês, pois é, respondo eu, mas deu-me imenso trabalho convencer mais duas pessoas a acompanhar-me nesta estranha e perversa aventura. Suponho que as outras dez mil e tal tenham sofrido as mesmas dificuldades para convencer, cada uma, dois amigos a aceitar um bilhete "totalmente grátis".
Vamos ao que interessa: o melhor do concerto, para além dos tubos de ensaio maleáveis luminosos distribuídos pelo povo e que davam um colorido giro ao antro do evento, foi uma claque de "groopies", absolutamente adolescentes (!!!) mas altamente bem-dispostas, que estavam ao meu lado e que me animaram a noite. Só é pena que não me tenham reconhecido. Mas talvez seja natural: estava escuro lá dentro e o Phil Collins é mais famoso que eu.