A Marta
O meu tremendo fétiche desapontou-me. Com toda a minha fraqueza, via-me novamente embevecido, de quiosque em quiosque, parando para olhar as capas das revistas que trouxessem o esplendor da Marta Pereira - hoje em dia, a Marta Pereira não aparece, ocupa: de programas de televisão a revistas para homens, passando por entrevistas ao 24 Horas, está um pouco por todo o lado, como uma granada após a detonação.
Desde os tempos do Ai Os Homens - esse estandarte da TV nacional em que jovens rapazes com falta de auto-estima se predispunham a um banho numa piscina de água fria; mas, antes do momento de glória, os mesmos rapazes tinham que prestar provas do quão "giros" e "simples" eram as suas pessoas (normalmente, os concorrentes excediam as expectativas e "simples" tornava-se hipérbole, sendo o adjectivo arredondado para "básico") -, que a Marta faz parte do meu imaginário animal.
Para quem não se lembra, o Ai Os Homens tinha duas vertentes. A feminina e o resto. O resto não tem qualquer tipo de interesse. A feminina tinha a Marta Pereira. Também tinha a Raquel Loureiro e a Amy, mas essas nunca me agradaram. Eu gostava era da Marta. Aliás, se o anúncio da OK Telesseguro tivesse uma menina a dizer "Olá, fala a Marta... Pereira" eu inscrevia-me logo. Até tirava a carta de condução! Havia uma situação durante o concurso em que os concorrentes eram eliminados: alinhavam-se, em tanguinha, na borda da piscina; as modelos/animadoras iam passando por eles, um por um; esfregavam-se, davam carinhos e, no final da actividade, ou empurravam o rapazola para a água ou, caso ele não fosse eliminado, davam-lhe um beijinho. Na cara.
O meu sonho, na altura, era concorrer ao Ai Os Homens e ser empurrado pela Marta Pereira. Até tinha programado que, quando ela me viesse empurrar, eu segurar-lhe-ia nos braços e cairíamos num mergulho romântico e um bocadinho erótico. A água fria estimula à brava. Mas, entretanto, o concurso acabou, eu não concorri e acabei por esquecer a Marta.
Eis que, tantos anos depois, ela aparece por todo o lado, deixando em alvoroço o meu imaginário perverso, que tem andado muito mais activo do que seria aconselhável, uma vez que vivo numa sociedade razoavelmente equilibrada em que a discrição é um valor a preservar. Voltei a imaginar-me idilicamente, caindo à água fria, num abraço malandro à Marta. Mas hoje a TV Guia derruba as minhas últimas ilusões. Diz, na capa, que a Marta tem um namorado. Para cúmulo, e a avaliar pelo aspecto, era menino para limpar o Ai Os Homens com razoável facilidade. Oh, Marta, Marta, Marta...