Recorte de imprensa
Atentem no que encontrei: um recorte de imprensa que documenta a primeira vez que os média nacionais me dedicaram atenção. Foi após um concerto no Recreativo da Damaia, em 1987, com os Fome Etíope - uma banda de cariz vincadamente interventivo. Eu era, tal como sou, guitarrista, só que ainda não havia atingido o patamar daquilo a que vocês chamam "fama". Havia mais três elementos, a cena do costume: baterista, baixista e vocalista. Praticamente não tínhamos fãs, mas isso é normal quando ainda somos novos. Podia estar a aqui uma semana a falar-vos dos Fome Etíope e deste mítico concerto, mas prefiro deixar-vos com uma opinião neutra e instruída, no caso, do repórter do Popular da Falagueira, publicação entretanto extinta.
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Fome Etíope subiram ao palco da Damaia
A noite estava agradável, o recreativo estava praticamente cheio, a multidão, pode dizer-se, encontrava-se entretidamente conversadora. Foi então que os Fome Etíope subiram ao palco, derrubando todo o tipo de esperanças quanto a uma noite pacífica e calorosa - isto, embora a parte do "calorosa" tenha vindo a concretizar-se, especialmente após o arremesso das primeiras cadeiras.
Mas vamos ao retrato da noite: os Fome Etíope são uma banda que precisa urgentemente de praticar o transporte dos instrumentos - está mais que visto que o seu futuro não passa por tocá-los; o mundo da música aguarda-os, sim, mas como roadies. Se tanto. Com um baterista (Jubas) com batida forte e deveras irregular, todo o som se pauta por uma constante ondulação desregrada, no limite entre o caos sonoro e a inaudibilidade. Já o baixista (Joãozinho P.) denota sérias dificuldades no manuseamento de um instrumento que pesará, certamente, o dobro dele próprio. As linhas de baixo são, com alguma boa vontade, difíceis de ouvir. O vocalista e também letrista do conjunto (N. M. Sarmento) apresenta dificuldades em lidar com a realidade, provavelmente devido à ingestão excessiva de estupefacientes. As várias deficiências de fala que apresenta abonam a seu favor, por uma lado, e a favor do público, por outro. Contudo, após um exercício de atenção e concentração extremas, foi possível perceber que consegue a proeza de rimar "beijo" com "percevejo", uma rima, tanto quanto o Popular da Falagueira apurou, inédita até sábado passado. Chegamos ao "guitarrista" e é aqui que os adjectivos escasseiam. Uma pista: mau é elogi"
HEI HEI HEI!!!!! ALTO LÁ!
Mau. Se eu soubesse que era para isto, não tinha publicado o recorte de imprensa no meu próprio blog. Humpf!... Não admira que o Popular da Falagueira tenha desaparecido. Com jornalistas assim...