Homem ao Mar!
É a faina. Trepam, mar adentro, e, naquela chata pouco mais que frágil, carregam sobre as vagas que não têm regras, que não têm respeito. Aquelas vagas que crescem, aquela massa impensável que transcende os homens, avassaladora, poderosa.
Toneladas tiranas que ordenam e desordenam rotas e derivas.
"É desta que me levas os homens, malvado"
Sussurram em terra.
"Mestre, é desta é que a gente vai"
Há receios no mar.
Mas é a faina. O Homem, que nasce mínimo, agiganta-se por dentro e diz para si que conquista e então é como se crescesse mesmo e se tornasse imenso, ondulado, poderoso e caótico contra o caos das águas.
Aquilo é tudo água. É aquela coisa minúscula e os homens, inacreditavelmente mínimos, que leva dentro, e o resto, à roda deles, é água. O mundo é todo água selvagem.
"Mar danado, que me levas os homens"
E o mar responde, danado, possuído. Com a paciência que o poder permite e a força que o inferno concede. Faz arrepiar.
"Mestre, é desta é que a gente vai"
E o mundo abana e os pensamentos arrepiam-se e colam-se à pele molhada dos conquistadores. O Danado agita-se e faz-se maior. E mais forte e impiedoso e divino.
"Mar danado, que me levas os homens"
Como deuses-monstros enlouquecidos, as vagas revoltam-se e levantam-se. Fazem os homens pequenos. Fazem os homens não significar coisa alguma e é então que os homens temem - o Danado obriga os homens a temer. Aquela massa líquida, que se agita e ondula, desregrada e sem dó, exibe o seu esplendor contra a finitude frágil dos outros.
"Mestre... é desta é que a gente vai"
E foram.
(para os homens do mar. todos.)