As indiferenças
ou o modo diferenciado como o ser humano olha para a tragédia dos outros
O egoísmo do Homem é tão enorme que só sentimos a dor dos outros quando sentimos medo que nos aconteça o mesmo, ou seja, quando a possibilidade da tragédia ser nossa passa a existir. É por isso que se reza quando alguém explode num comboio em Atocha ou se chora quando alguém carbora em Nova Iorque. Podíamos ser nós. Afinal, espanhóis e americanos são nossos "semelhantes". Mas toda a gente passa a página do jornal quando, diariamente, pessoas que - acreditem! - também são como nós, derretem em atentados em Israel, ou vão pelos ares na Palestina, no Iraque ou na Arábia Saudita.
O tsunami do Índico só nos impressionou porque podia ter sido cá ou porque podíamos ter estado lá de férias ou porque a terra pode tremer em Portugal a qualquer momento. Soubemos pôr-nos na pele das vítimas. Ou, pelo menos, soubemos tentar fazê-lo. Mas, se o caso fosse outro, se 200 mil pessoas tivessem morrido, ao longo de um ano, devido a uma operação militar concertada entre países desenvolvidos, sob o comando dos EUA, com cidades e aldeias e colheitas e fábricas e hospitais e escolas destruídos como resultado, duvido que alguém prestasse atenção. Porque sabemos que nós nunca seremos vítimas dessas operações concertadas que vêm "prevenir" o mal maior. Não temos medo disso. Tememos, isso sim, o terrorismo islâmico, porque podemos ser a próxima vítima. E tememos os terramotos e os tsunamis, porque os destinos de placas tectónicas e vagas monstruosas não dependem de presidentes nem de conselhos de segurança.