Querida Guitarra
quinta-feira, janeiro 20, 2005
  Brinquedos novos
Quando um guitarrista - e isso aconteceu comigo, antes de me ter tornado extremamente famoso - começa a arranhar uma guitarra, esgrimindo contra as leis da física e a inépcia que impedem as mãos de realizar os sonhos, concretizando 'aquela' melodia que se tem na cabeça... onde é que eu ia? Hum... Bom, os primeiros acordes que um gajo toca, normalmente ouve-os sair da guitarra de outrém: esta é a verdade. Ao início ninguém compra uma guitarra. Mais: a compra prematura de uma guitarra pode levar ao desânimo, uma vez que cria no futuro músico a sensação de obrigação de aprender a tocar, uma vez que o investimento já está feito. E quem sabe tocar guitarra, saberá do que estou a falar. Trata-se de um instrumento teimoso que não se deixa domar às primeiras. Primeiro vêm as posições dos dedos, depois os harpejos, mais tarde os ritmos e a noção de apertar as cordas contra o braço como deve ser. Por esta altura, vacila-se: as bolhas nas pontas dos dedos começam a ser insuportáveis e os resultados raramente são melhores que o medíocre. O som sair até sai, mas nunca sai como a gente gostava que saísse. Ena, que frase contfusa. Bom, continuando... Só quando se tem a certeza de que se pode evoluir na guitarra é que se deve comprar o instrumento.

Uma das maiores alegrias de um guitarrista em início de prática musical é a aquisição da 'sua' primeira guitarra. 'A tal' Querida Guitarra, com quem desabafa. Aquela que, por mais semelhante a um pé de cabra com cordas que ela seja, NUNCA há-de ser partida em palco. É a musa. É a primeira. Aquela que viajou primeiro às nossas costas. Aquela na qual aprendemos a trocar as cordas. Aquela na qual experimentámos colocar as cordas de formas diversas e inventivas no carrilhão, acabando por concluir que existe, afinal, uma forma mais correcta e eficaz que todas as outras - tornar-mo-nos ricos e famosos e comprar um roadie para nos trocar as cordas.

A minha primeira guitarra era uma Sissmux 926-TRF. Custou-me 16 contos e trazia saco. Já vinha com empeno e nunca ninguém conseguiu afiná-la com afinadores. Chegou a avariar um afinador digital, nos seus tempos áureos, quando eu ainda não sabia sequer que existiam coisas chamadas escalas. Tocava eu com os Mini Nasty Cleaver Worms. Tentávamos tocar punk-rock, mas não tínhamos competência, ainda. Anos mais tarde, vim a saber que o baterista adquiriu um metrónomo e terá então exclamada "bem, que cena... faz toc-toc no mesmo ritmo durante bué de tempo". A velha Sissmux ainda lá está, em casa dos meus pais.

Depois da epopeia guitárrica, vem a aventura amplificatória. O meu sonho sempre foi ter um JCM 900, da Marsahall. Hoje tenho três, um deles no meu quarto. Mas, no início dos tempos, a coisa não era assim. Se agora existe fartura, no princípio tudo o que existia era noite e escuridão. Depois veio deus e criou o mundo e um casal para procriar debaixo de uma macieira. Entretanto vieram os peixes e outros bichos mais terrestres, mais tarde chegaram os dinossauros, a seguir os crocodilos e as tartarugas. Até que chegou o dia em que eu comprei um Legend de 20 watts. Quanto mais se aumentava o volume, mais distorção conseguia obter. A partir do nível 4, atingia o feedback com razoável facilidade. Era uma festa para os meus vizinhos de cada vez que eu tentava tocar o I Used To Love Her - não altura, era uma cena complexa para mim - aos domingos de manhã.

Tudo isto para vos dizer uma coisa tão simples:
os Oioai compraram amplificadores de guitarra novos. E, como querem mostrá-los, convidam o povo todo para partilhar, entre todos, a imensa alegria que é ter brinquedos novos para fazer barulho, música e outra cenas, como o jazz ou a ópera. Eles fazem rock. Por isso, não percam: Oioai ao vivo, sábado, dia 22, às 23h30, no Bar Europa (Cais do Sodré, Lisboa), entrada livre.
 
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