Desabafo pessoal e um bocado íntimo
Procurei descanso. A verdade é que o dia-a-dia ruidoso e movimentado desgasta as pessoas e eu não sou excepção. No entanto, há coisas que se tornam parte de uma pessoa sem que alguém as possa controlar. Uma guitarra, por exemplo. A minha guitarra é aquela extremidade da mão que não consigo amputar com o corta-unhas. Conseguirá um músico arrumar-se, como um par de cabos, desmontar-se, como uma bateria? Um músico não é um instrumento. Vai de férias, deixa a guitarra em casa. Mas o mundo é um sítio com muitas outras guitarras e a possibilidade de experimentação faz com que a curiosidade se torne uma besta imparável. Questões impertinentes, como "será que esta guitarra tem um som fixe?", surgem em catadupa, mesmo que o instrumento em questão seja a mais banal stratocaster da Fender. Todas as outras guitarras - as que não são minhas - são novos corpos a explorar. Sítios onde eu nunca pousei os dedos, contornos que eu nunca toquei, transformam-se subitamente em objectos carnais, sedutores. A minha sexualidade é uma cena um bocado esquisita.