Coluninha saudosista
Antes de mais, deixo um aviso - se, por um acaso estranho (muito estranho, mesmo), estiver um taxista de frente para a internet a ler esta página:
amigo, pode parar de arremelgar a pestana. Sobre este amarelo duvidoso nunca haverão de derramar-se expressões como "fazia cá falta era o Salazar" ou "já tenho saudades da propriedade em Lourenço Marques e de quando eu dava umas boas vergastados nos pretinhos". E se o aviso serve para os taxistas, não serve menos para as senhoras idosas, de mais de 50 anos de idade, que teimam em ocupar os lugares reservados aos deficientes e às grávidas nos transportes públicos de Lisboa.Adiante. Para estreia desta
Coluninha saudosista, rubrica que conto repetir com regularidade imprevisível, tomo a liberdade de apresentar uma pequena pérola que achei este fim-de-semana no armário do hi-fi dos meus pais. Lá estava ela, velha, rouca, a capa partida, as letras já comidas pelo sol de anos e anos (14, salvo erro): a cassete do primeiro álbum dos
Resistência. Julgo eu que o álbum se chama mesmo
Resistência. Mas não prometo nada. Ou seria
Palavras ao Vento? A minha cabeça já não é o que era.
Meus amigos, aquela relíquia é a prova irrefutável de que uma mistura arriscada nem sempre dá dinamite, vómitos ou diarreia. Normalmente, dá. Mas, neste caso, juntar Pedro Ayres Magalhães à dupla delfinista Miguel Ângelo/Fernando Cunha e este trio ao improvável Tim e estes todos juntos (!!!) ao inenarrável Olavo Bilac... revelou-se uma ideia muitíssimo boa, apesar de estranha à brava.
Há ali músicas que, depois de devidamente arranjadas, se tornaram brilhantes. A que mais me impressiona é
No Meu Quarto, com uma interpretação no mínimo inesperada de Miguel Ângelo e Olavo Bilac.
Eu não sei o que vocês pensam sobre o assunto, mas eu gosto de surpresas agradáveis. Especialmente quando já são relíquias do tempo dos Nirvana. E era só para dizer isto.
PS - Não deixando créditos por mãos alheias, Ângelo e Cunha dão um ar do seu charme com o inadjectivável Nasce Selvagem. Para quem não sabe, como se não bastasse a pobreza deste tema no seu original, a amaldiçoada canção viria ainda a ser semeada e a dar frutos nefastos. O fruto que me vem assim de repente à cabeça é essa aberração Soltem os Prisioneiros, que certamente brotou de uma tarde de inspiração no Parque Natural Sintra/Cascais, durante um longo passeio dos Delfins pelas imediações do Hotel de Tires e das piscinas do Linhó...