Querida Guitarra
quinta-feira, novembro 10, 2005
  Could I hold on, or should I hold on to you?...
Porquê desejar Lou Barlow?

Não me interpretem mal. Não falo de volúpia nem tão pouco de mariquice. A resposta à pergunta que abre o texto é, na realidade, bastante simples: Lou Barlow é um "dos últimos". Não me vou pôr a definir isso do que é ser "dos últimos". É ser o Chris Novoselic, o Frank Black, o Mark Arm ou a Kim Gordon - é ser o oposto do Billy Corgan, do Dave Grohl ou do Eddie Vedder, personagens que dão consistência e corpo à expressão dos outros, os que ficaram para ser "dos últimos". Ser um "dos últimos" é estar por cá para me lembrar - e a todos os que, da minha geração, ainda são "dos últimos" - que a adolescência foi uma coisa fascinante. Foi e ainda é, porque "os últimos" carregam adolescência no estômago e, quando esta escasseia, as glândulas tratam de renovar o stock.

Ouvir o Lou Barlow é descer à profundeza dos 15-16 anos, num deleite melódico que tem tanto de melancólico como de apaixonado, tanto de calmo e paciente como de insatisfeito e ansioso.

Conheci Lou Barlow com Sebadoh. Conheci e apaixonei-me, evidentemente, não só por Barlow mas também por Lowenstein, compositor que desequilibra a música com tiradas do mais puro génio, contrapostas a podridões acéfalas quase inaudíveis. Claro que, em Lowenstein, amamos a genuinidade, o despudor, a imperfeição, as rugas da criação. Em Barlow apreciamos a sua capacidade para ser arrumado, para se escutar, para buscar o óbvio - este exercício não é fácil: o óbvio cai, muitas das vezes, no básico; Barlow evita-o com mestria, criando melodias que, sendo puerís, simples, directas - diria "de caderno da escola" -, escapam sempre à náusea do previsível e do medíocre. Barlow é uma espécie de génio, de mestre com alma de "rapaz acanhado lá da turma da primária". Que se revela com uma guitarra nas mãos.

In a world of possibilities, this may not prove real.

Mas Barlow é muito mais que Sebadoh - banda, refira-se, tríptica, sem qualquer pretensão à homogeneidade ou à coerência, composta por três criadores-intérpretes, num esquema rotativo e musicalmente "democrático". Lou Barlow foi baixista dos Dinassour Jr., formou os The Folk Implosion, reformolou-se com os New Folk Implosion, fez coisas absurdas como Sentridoh, etc. Barlow é uma criança hiperactiva. Sorte nossa: mesmo "os últimos" e até os hiperactivos amadurecem e Barlow não é excepção. Se alguém duvidar, ouça, com atenção, aquele que é oficialmente (sim, porque oficiosamente não o será... a diferença é que neste ele dá o nome à etiqueta) o seu álbum de estreia a solo: Emoh (anagrama diametralmente invertido de Home). É uma colecção de pérolas. Melhor: sem quebrar com a tradição "sebadohiana", Barlow recusa a limpidez exacta das coisas, preferindo antes a mágoa perfeita dos sons sublimes, das sequências que arrepiam e das palavras dolorosas (ouça-se Royalty ou Mary, letras deliciosas e ásperas). Barlow vai até mais longe neste seu Emoh: consegue transformar uma das piores músicas da história do hard-rock (Round-n-Round, dos The Ratt) numa faixa soberba, de ouvir vezes sem conta, em repeat mode. Acrescente-se que a sua voz atinge em Emoh o pico de forma. Está limpa, segura, ainda mais afinada, amadurecida e, sobretudo, bem cuidada ao nível da produção e da equalização do todo, sobressaindo, sem exuberâncias mas com brilho e sobriedade, de todo o emaranhado sonoro.

Porquê desejar Barlow?! Não vos parece óbvio?...

Could I hold on, or should I hold on to you? Ask, I'll tell de truth, there's nothing I should hide...

Lou Barlow, ao vivo, 11 de Novembro, Galeria Zé dos Bois, Bairro Alto - Lisboa. 7,50€ entrada.
 
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