Querida Guitarra
sexta-feira, fevereiro 10, 2006
  Coisas que me chateiam
Eu não costumo falar destas coisas, mas ando um bocado aborrecido. Primeiro é a história dos cartoons e dos muçulmanos que querem decapitar tudo quanto seja dinamarquês. Realmente, é estranho que se caricature Maomé com uma bomba na cabeça, a fazer de turbante. Onde raio terão ido os caricaturistas buscar essa ideia malvada? Mas também ninguém me tira da cabeça que toda esta situação resulta de uma certa ingenuidade (ganância?) dos média ocidentais: fizeram publicidade gratuita a um assunto sem importância, servindo os interesses dos propagandistas manipuladores de massas (não, não estou a falar do pessoal do Chapitô) fundamentalistas islâmicos. O que deveria ter sido uma tempestade num copo de água transformou-se num furacão numa piscina. Esperemos que fique por aqui. E esperemos que esta hesitação de estados e instituições europeias, juntamente com os seus lamentáveis pedidos de desculpas, não resulte também nalguma espécie de limitação legislada à liberdade de expressão.

Depois há outra coisa: O Segredo de Brockeback Mountain. Por mim, tudo bem. Querem fazer filmes com caubóis marquinhas aos beijinhos, força aí. Agora, não me enfiem o filme pelos olhos dentro - aliás, neste contexto, nem sei se a expressão é a mais indicada. Todos os dias eu leio que o filme é sublime, que é delicado, que é terno, que é sensível, que é bom para as donas de casa deprimidas, para quarentões que ainda não saíram do armário, que é um bálsamo para as artroses, que os actores são fofinhos, blá blá blá blá e que é um grande sucesso, mesmo entre as correntes mais conservadoras. Caríssimos: com quantidades gigantescas de publicidade gratuita e apologias em catadupa de filmes com veados a cavalo, surpresa era se ninguém fosse espreitar a obra. É a mesma coisa que o Crime do Padre Amaro: ora, se põem a Soraia Chaves de maminhas à mostra na treila da promoção, queriam o quê? Salas vazias? Isto é tudo uma conspiração da ILGA!


Aquele padre Amaro é um criminoso!, sussurrou Soraia ao ouvido do Guitarrista.
 
Comments:
Provocante nem é a foto, é a frase ao lado da foto!!! ahahahahahahahahahahhahahaha ai...
 
É uma característica muito minha, eu sei...
 
A Brigitte Nielsen é dinamarquesa. Quem terá coragem de se meter com ela?
 
O que me incomoda é a mensagem subliminar de que o "Brokeback Mountain" é um bom filme porque, em vez de ser um bom filme e (e já nem falo do igualmente inaceitável apesar de...).

Até porque me parece exagero, tanta conversa acerca do que o filme conta. Que raio, quem vai ver um filme que fala de "partir o traseiro", está à espera de quê?
 
Também ando chateado com algumas coisas. Ando "Manducado" (o Guitas sabe do que estou a falar).

E essa história da "liberdade de expressão" também é gira e isso.

Vamos todos imaginar.

Jornal Público (foi por acaso, acreditem). Editorial assinado por J.M. Fernandes. Título.

"Belmiro de Azevedo é um filho-da-puta que faz broches enquanto lê "A Bola" na casa de banho".

Dia seguinte.

J.M. Fernandes na rua. Paulo de (ia-me esquecendo do "DE", importante, hum?) Azevedo monta cerco à residência do dito-cujo-cacará-sanguinolento. Sócrates pede desculpa à nação e ao Euronext Lisboa e à Bolsa de Tóquio, Francoforte e Nova Iorque. Manuel Pinho avisa que «só por causa dessas brincadeiras», vai «vender a casa do Almeida Garrett». Ricardo Espiríto Santo falece depois de uma taquicardia provocada pela emoção/riso exagerado antes de mata-bichar.

Liberdade de expressão sim, sempre, estou disposto a matar (só com as Super.Sopas.de.Letras, porque sou objector) por ela.

O problema é que aquela caricatura está doente.

É má. O gajo que a desenhou é tipo os iogurtes magros - "Zero Gordura". Este é "Zero Talento". É racista, é sionista, é xenófobo, é malcriado.

Evitemos ainda as generalizações. "Os muçulmanos" não serve. «Alguns-muçulmanos-doidos-fanáticos-ignorantes-cegos-que-nem-uma-porta-facilmente-atiçáveis», talvez.
 
Pois... antes d ser carteiro eu era para ir para padre... s soubesse o q sei hoje até mudava o nome para Amaro..
 
A Soraia diz que esse Amaro é um criminoso...

Edson: se o cartoonista tivesse sido despedido - não por acto de censura, mas pela tal "falta de talento e de educação" - achas que o problema ficaria resolvido?

Para fechar, sublinho que falei de "propagandistas manipuladores de massas fundamentlistas islâmicos", não falei de "muçulmanos" no geral. Isto, porque neste blog não me apetece ser propositadamente politicamente incorrecto - às vezes, pelo menos. Porque, se me apetecesse, dizia: "os muçulmanos são um bocado violentos a regiar a uma merda de uns carrtoons. São um bocado bárbaros, realmente." E agora? Quantas embaixadas é que eu incendiei com estas afirmações? Quantas incendiaram os puritanos defensores do islão contra os "fundamentalistas ocidentais mal-educados racistas e xenófobos"? Se a ofensa com o cartoonista foi pelo cartoon fazer um retrato, por atacado, dos muçulmanos, onde está o exemplo muçiulmano ao atacar por atacado, salvo seja, todos os dinamarqueses e mais uns quantos ocidentais, residentes em países islâmicos?

Deixa-me ver se eu percebi: fazer um desenho estúpido é um crime; reagir violentamente a esse desenho estúpido é um direito? Hummm... não sei se a teoria pega.
 
mas quem é que se está a fazer passar por mim, ein?
ai ai
 
Mau, tanto carteiro... não tarda, largo os cães.
 
O problema é que quem deveria ter sido despedido era o editor e não, o problema não ficava resolvido.

Mas adiante.

Eu não disse que publicar (fazer, até eu, que não sei pegar num lápis posso fazer) um desenho estúpido é crime. Disse que foi gratuito. Disse que foi mal intencionado. Disse, e reafirmo, que é xenófobo, sionista e racista.

Para mim, isto não é liberdade de expressão - é estupidite aguda. Há cura?

Também disse (ou quis dizer) que aquela cambada de fanáticos, loucos, desregulados, não têm capacidade, sequer, para discernir ou entender qualquer associação de ideias básica.

Não achas que estão bem uns para os outros?

E que não vale a pena generalizar aquilo que não é generalizável. E que a liberdade de expressão também não é "aquilo" - uma cambada de grunhos excitados e auto-flagelados, prontos para matar.

(«Primeiro é a história dos cartoons e dos muçulmanos que querem decapitar tudo quanto seja dinamarquês. Realmente, é estranho que se caricature Maomé com uma bomba na cabeça, a fazer de turbante. Onde raio terão ido os caricaturistas buscar essa ideia malvada?».

Isto parece-me uma generalização. Ok, a seguir dás outra paulada na ferradura, mas aquela já ninguém te tira).

Terroristas existiram, existem e vão existir por todo o lado. ETAs, IRAs, Lybias (actual grande amigalhaço daqueles «que não negoceiam com terroristas»), FATAHs (outros companheirões daqueles «que não negoceiam com terroristas»), Marroquinos, Muçulmanos, FPs e Israéis - é o que quiseres, como quiseres, onde quiseres.

Por isso, parece-me que este assunto é tipo «Rambo vs. Rambo».

Um filme monossilábico - o argumento está cheio de "AAAARRrrrrrgghhhh", "UhUhUhUhUhUh", "ÉEEEEEEÈEEEÈEEEÈEE" e no final são todos heróis.

Uns salvaram «a liberdade de expressão». Os outros «o islão deles», porque pode (deve) haver outros "islões".

No final, acaba tudo com palmadinhas nas costas e com a Comunicação Social a entregar os Óscares na passadeira vermelha.

Como «não se negoceia com terroristas» (só vale matar, espancar, agredir, insultar, separar e tal) fica cada um a gritar com os seus botões.

E a marrar contra a parede. Eu preferia um meio caminho.

"Maomé, sorry mate. It was stupid."

"Hey Denmark, we'll pay all the prejudice and we feel sorry for the deaths. All the criminals will be prosecuted and arrested. Sorry."
 
Bom, isto é assunto que tem muito por onde se lhe pegar. Penso que o mais importante aqui entre nós é ressalvar o tom em que as coisas que escrevo são escritas. Aquilo que tomaste como generalização foi-o mas deliberadamente; foi o politicamente incorrecto no seu modo explícito. Agora uma coisa é certa: a reacção por parte dos ofendidos só confirma a crítica feita no cartoon. Tudo bem, um meio-termo seria o ideal, sem dúvida. Mas será possível encontrar um meio-termo quando as regras do jogo são tão substancialmente diferentes entre as duas partes em contenda?

Eu acho que uma merda de um cartoon, por mais de mau gosto que seja, é uma coisa absolutamente inofensiva e só a propaganda e a manipulação da ignorância pode levar a consequências destas. Não me parece que o erro, em si, esteja no cartoonista, no editor ou no Maomé. Que foi infeliz, de mau gosto, etc., sim senhor, foi. Mas não deixou de ser inofensivo.´

Para além disto, acho que abdicar, por medo, do direito a ser politicamente incorrecto, é um passo perigoso em direcção à cedência face à ameaça gratuita do terrorismo - que é uma espécie de fantasma que paira sobre todo o Ocidente. Daí que, neste caso, não concorde com: pedidos de desculpas oficiais e protocolares; excessiva mediatização do acontecimento.

Se uma peça (o cartoon, no caso) é ofensiva, de teor racista, xenófobo, etc., há formas legais e jurídicas de proceder em relação ao assunto. O próprio estado dinamarquês, possuindo uma constituição que defende os direitos do Homem, poderia instaurar um processo ao jornal e ao cartoonista. Não precisava de pedir desculpas ao mundo árabe. (Muito menos o MNE português precisava de fazer estas figuras.) Um jornal/jornalista que ofende levianamente, responde por isso em tribunal. É assim que funciona. Não é com guerras frias em que uma facção ameaça que põe bombas e a outra ameaça que se põe já de joelhos... Agora a ofensa - por mais que o povo muçulmano a sinta de forma profunda - parece-me menor quando comparada com o pretexto de que serviu, no fundo, para "legitimar" aos olhos dos povo árabes uma tomada de posição pela força. Ou não?

Porque é disso que se trata no fundo: há um pretexto (em Setembro um jornal egípcio tentou levantar ondas com o assunto; ninguém lhe passou cartão, o assunto morreu; passados 6 meses o assunto volta à ordem do dia?! Algo aqui não bate certo...) e há uma sede de sensacionalismo que lhe acende o rastilho. E, no fim, há isto: uma situação de merda. O mal é do cartoon?
 
Acho extremamente audacioso ler "a Bola" enquanto se faz um broche. Seja o Belmiro de Azevedo ou outro qualquer. Mas não deixa de ser uma ideia curiosa.

Em relação aos cartoons, todo o caso já ultrapassou há muito o que está representado nos desenhos e
quase ninguem reparou na altura porque são inofensivos.
Nesta altura do campeonato, entre a sede de notícias que vendam, por parte de alguns media ocidentais e não só, e a necessidade de razões para incitar mais uma intifada, por parte de uma série de gente "religiosa" com outras intenções que pouco têm a ver com fé, a coisa chegou onde chegou.
E pelo andar da carruagem irá ainda longe porque dá jeito.

Isto é uma maravilha para manter os fácilmente influenciáveis em polvorosa.
Tanto a cretinagem do Ocidente cujo coração aperta por causa dos terríveis "muçulmanos" e que não deixa de ver as notícias babando-se em frente à televisão para depois permitir os seus governos conduzirem a política de negócios estrangeiros a bel-prazer.
Como alguns pobres coitados, com vidas miseráveis, em países devastados muito à custa de guerras recorrentes , geralmente com interesses ocidentais por trás, a quem claro agrada partir a loiça toda se, ainda pra mais, for em nome de Alá e com o aval do seu Imã.

Mesmo que o governo Dinamarquês mandasse hoje executar os cartoonistas a ira não ia acalmar .

Tive a sorte de viver com ou conviver bastante com muçulmanos libaneses, palestinianos, jordanos, sirios, marroquinos e do Bangladesh. A sua religião não prega os comportamentos que temos visto. SÓ conheci boa gente.

Nem a liberdade de expressão nem o islão deviam ser trazidos para o assunto porque o assunto no fundo nada tem a ver com nenhuma dessas coisas.
E que se foda o políticamente correcto.
 
Com licença... Desculpa lá, Brigitte, mas tu mereces...
 
Carago, mas ninguém vê que o que está aqui em causa é o funcionamento do Estado de Direito? Há um tipo que faz um cartoon de gosto duvidoso (subjectivo) e teor censurável (objectivo). Há um jornal que decide publicá-lo. Há uma Constituição que, espera-se (não a conheço), garante várias liberdades aos cidadãos que por ela se regem, entre elas a de expressão e manifestação. E há tribunais que servem para resolver diferentes interpretações das ditas liberdades.

O papel destes últimos não é passível de ser suspenso por decisão governamental que vise apaziguar ameaças a interesses do(e) país(es), e o governo desse(s) país(es) não deve ser permeável a pressões que o façam passar por cima das instituições próprias no sentido de contornar as regras do jogo à medida da situação.

Ao pedir desculpas, o governo dinamarquês está efectivamente a pedir desculpa pela constituiçao que tem e pelas liberdades que ela "permite".

Os fundamentalistas, por outro lado, estão a mostrar que o conceito de "Estado de Direito" não lhes diz muito, porquanto há obrigações de ordem religiosa que se sobrepõem a todo o Direito que se queira aplicar. Estão errados? Escorados na herança laica da Europa, podemos dizer que sim, mas isso não nos dá automaticamente razão.

Uma coisa, porém, me parece incontornável: o autor do cartoon e o editor que o publicou estão certos. Deixem funcionar as instituições e logo se verá se há algo a punir nas suas atitudes.
 
Carteiro q é carteiro nao tem medo de cães meu bom amigo.....

E carteiros são como chapéus... há muitos!!!

Comigo trablham mais de uma dezena... e conheço mais uns tantos.... Mas nao confundir... je suis El carteiroman...

Aquele abraço
 
Ok... isto daqui a nada parece uma estação dos CTT, mas enfim... El Careiroman e Carteiro, confirma-se, são dois funcionários públicos diferentes. É que não é habitual haver aqui duas pessoas da mesma profissão. Aliás, a avaliar pelas horas das visitas e comentários, a maioria do pessoal ou é desempregada ou está de baixa.
 
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