Querida Guitarra
sexta-feira, fevereiro 17, 2006
  O amor deve vir dos ouvidos
Quer dizer, eu não sei meeeeeeeeesmo ao certo de onde é que vem o amor. Mas, por exemplo, quando as pessoas têm um ataque de amor à primeira vista, é provável que o tal amor venha - tal como o nome indica - da vista. Mas isto, posto desta maneira, é capaz de não fazer muito sentido. Por exemplo, se uma pessoa se apaixona por algo que ouve, então o tal amor deve vir dos ouvidos, certo? Quer dizer, falando do amor à primeira vista - embora, no caso do amor auditivo, esta expressão se torne meio desajustada. Chamemos-lhe "amor às primeiras". Tanto pode ser "às vistas", "aos ouvidos" ou, em situações mais liberais, "aos toques". Numa situação romântica, pode ser "aos perfumes" - numa situação romântica numa casa okupada pode ser "aos odores".

Agora, isto não é a revista Maria, com todo o respeito que tenho por essa publicação. Isto é o Querida Guitarra. Não se trata aqui do "amor" e isso. Aqui fala-se de amor, mas é amor tipo... aquelas paixões, que vêm em flashes musicais quando ouvimos qualquer coisa que nos faz ficar meio zonzos, como quando estamos apaixonados. E faz-nos querer chegar a casa só para meter o CD a rodar e ouvir aquela determinada faixa e fumamos 5 ou 6 cigarros e ouvimos aquilo 10 ou 12 vezes, como zombies sorridentes, até que a fome nos desperta para a realidade e decidimos tornar-nos úteis. Então, levantamo-nos, hesitamos, ouvimos "só uma última vez e pronto".

Isto a mim faz-me pensar que o amor, no fundo, vem é da ignorância. Eu sou um bocado ignorante - naquele bocado relativo às coisas que existem e que eu desconheço. É um mal geral, não é só meu.

Uma coisa que eu ignorava era esta frase I still only travel by foot and by foot, it's a slow climb, / But I'm good at being uncomfortable, so / I can't stop changing all the time. A minha ignorância fez-me apaixonar pelo que só agora conheci e a minha paixão fez-me ouvir repetidamente, over and over and over and over again, como se tivesse novamente 12 anos e ouvisse, pela primeira vez, os acordes iniciais do Smells Like Teen Spirit. Só que aqui é em calmo, belo, espirituoso e gracioso o que naquele tempo e naquele caso era revoltado, enérgico, agitado e angustiado - dores de crescimento, por certo.



Eu não sei o que se passava com o mundo, que me deixava andar distraído, ou com a própria Fiona Apple, que nunca me tinha chamado devidamente a atenção. Só sei que, de há dois dias para cá, só penso em chegar a casa e ouvir aquele refrão que me derrete Be kind to me, or treat me mean /I'll make the most of it, I'm an extraordinary machine, naquela voz afinada e rouca, terna e atrevida, uma voz de provocação, jovialidade e café quente. Depois admiram-se que eu ande sorridente... claro que ando, estou apaixonado!
 
Comments:
Tb eu sou ignorante em relação a muitas coisas.... e em relação a muitas delas nunca irei deixar de o ser... Mas não poderia concordar mais contigo... nada mais apaixonante do que aquela musica que nos faz vibrar e sentir-nos como miudos outra vez...

Akele abraço
 
"Voz de café quente"! :)
 
carteiroman, o problema é que existe também aquela música que, por muito que não queiras, te traz as recordações que mais querias esquecer num determinado momento... e, por via do maior dos azares, aparece sempre no momoento mais inoportuno, às vezes quando nem sequer sabes que é essa mesma música que te faz lembrar disso. é a tal coisa: dá para os dois lados...
 
Mas mesmo as más recordações fazem parte de nós... além disso quem se esquecer do passado está condenado a repetilo.... e há coisas que uma vez já foram demais... abraço
 
Ó, não... consultório sentimental...

Lá por fazer "lembrar coisas", a culpa nunca é da música. Eu por exemplo até gosto de me lembrar das coisas através da música. E, quando for velhote, há-de ser uma preciosa ajuda para que não me esqueça do que foi acontecendo.
 
Mas olha que se for para saírem como saiu este último (Extraordinary Machine) vale a pena esperar.
 
That's a great story. Waiting for more. » » »
 
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