Extrema Unção
Quando começou, era pouco mais do que uma fanzine mas seguramente menos do que um jornal. Com o tempo, foi aprendendo. O hábito de comprá-lo foi passando dos irmãos mais velhos para os mais novos, dos amigos mais atentos para os menos interessados. Do início dos anos 90 até meados da mesma década, dizia coisas que tinham importância e tinha uma tiragem respeitável. E então foi vendido a um grupo de média, perdendo a sua independência (irreverência incluída). Era definitivo: o Blitz deixara de ser um pequeno pasquim de culto que incidia sobre as novidades do rock alternativo, nacional e internacional, para chegar a uma data de gente, de gostos diversos. Foi esse o seu mal: para encontrar um interesse comum típico dos grandes públicos, o Blitz desespecializou-se, digamos assim, tornando-se tão banal quanto qualquer subproduto da MTV. Deixou de vasculhar em caixotes que guardavam Pavement, Flaming Lips ou Sonic Youth para ir directamente às estantes colher o fruto fácil de uns Korn, Offspring ou Limp Bizkit. Quando acordou dessa névoa aburguesada e sentiu que perdera a própria essência, era demasiado tarde: já ninguém o comprava. Para que se tenha uma ideia, a
Querida Guitarra tem, em média, num mês, o mesmo número de leitores que as quatro (4!!!) últimas edições do Blitz. E este é um blog de culto. É fácil fazer as contas.
Quem não perdeu muito tempo a interpretar os números foi a administração da empresa que gere o Blitz. E é por isso que, amanhã, dia 11 de Abril, sai para as bancas o penúltimo número do Blitz (o último, se existir, sai a 24). Pelo sim, pelo não, a extrema unção fica já dada: que Deus o guarde, paz à sua alma. Por mim, ficam boas recordações e uma imensa pena que se tenha estragado. Parece que o dinheiro estraga tudo.