Maledicência gratuita
Quando uma pessoa, mesmo se for uma pessoa como eu, está de mau humor, assim como eu estou, e um bocado ressacado, que é mais ou menos como eu me encontro, do que é que tem vontade? A mim dá-me ganas de dizer mal de alguém. E eu já sei que há muito boa gente que não gosta desta prática - são vários os comentários, especialmente anónimos, espalhados por aí a dizer que eu sou um mete-nojo e que não sei quê e que não presto para nada como crítico e tal. Isto só porque digo que o Beto é um débil vocal que gostava de ser cantor, que a Vânia Oliveira é feia, histérica e canta mal que dói, ou que o Marco Paulo, a Romana, a Ruth Marlene e o Tony Carreira certamente dariam um belíssimo concerto, logo à noite,na estação de metro do Terreiro do Paço. Porém, estas são personagens sobre quem não me dá grande gozo dizer mal. São demasiado frágeis, a sua falta de talento é tão notória que a opinião de um especialista, como eu, acerca destes cromos acaba por revelar-se desnecessária: a existência "musical", digamos assim, dos supracitados (e outros da mesma estirpe) é ela própria garante da falta de qualidade que orgulhosamente ostentam e que o povinho faz questão de, na sua feliz ignorância, ir sustentado comprando discos, posters, t-shirts isqueiros e bonés em quantidades exorbitantes e surpreendentes. Não precisarei, portanto, de repetir maledicências sobre essa corja.
Há, no entanto, outras personagens que me merecem o repúdio e, em dias como o de hoje, uma dose de escárnio rasteirinho. Assim, à cabeça, surge o inimitável Rui Veloso.
-Gostava que o Guitarrista fizesse um Músicos Freak dedicado a mim, mas ele não vai com a minha cara. No entanto, eu acho que sou um bocadinho freak. E um bocadinho músico também.Não, não faço um Músicos Freak com o Rui Veloso. Cheguei a equacionar um post assim, mas concluí que não merece e que não faz sentido. Tal como não faz dedicar uma rubrica tão distinta ao João Pedro Pais. Pelo menos, enquanto não encontrar as fotos certas... se alguém tiver sugestões, encaminhe-as para o e-mail
Querida Guitarra.
O Rui Veloso é irritante. Para além de um pedante descomunal, sofre de uma profunda falta de talento que só encontra paralelo na sua completa ausência de criatividade. Não gosto dele. Fez o Chico Fininho, sim senhor, e até foi giro. Mas, desde essa altura, nunca mais fez nada que me mereça em audição qualquer espécie de perda de tempo. "Ele toca bem guitarra", dirão vocês. E eu respondo "eu também jogo bem à bola e não faço disso a minha vida". "Ah, mas ele já tocou com o mestre BB King", riposta o povo na sua imensa insapiência. E, já meio impaciente, mato o assunto "enganou o velhote bem enganado, é o que é".
O Rui Veloso é um engonha a cantar, essa é outra. Não atina com o comprimento das palavras, que raramente são da sua autoria - e isto não é necessariamente mau, mas já lá vamos -, prolonga sílabas, arma o vocal para o Blues e esquece-se que canta em português. Depois dá no que dá.
Outro tique de pobre de espírito é aquela armação em tripeiro. O Rui Veloso vive nos arredores de Lisboa (no Sabugo, salvo erro, ali ao pé de Pêro Pinheiro... pois, vocês sabem lá onde é que isso fica... who cares?...), há anos. Não sei ao certo quantos, mas se disser vinte não deve ser exagero. Nos anos oitenta, lembro-me de o ouvir em entrevistas e ele praticamente não tinha a pronúncia tão peculiar, característica e bela das gentes da Invicta. É curioso como, vinte anos depois, por ocasião do aniversário da sua carreira, com tantos anos de lisboeta em cima, a pronúncia tripeira se tenha apoderado da língua do Rui. É forçado, é pobrezinho, é gratuito. É mau. É ruivelosismo puro. O Rui Reininho, que é tripeiro dos tornozelos ao pescoço, não tem metade daquela pronúncia e penso que nem se rala muito com isso - cada um tem a pronúncia que tem, mais ou menos cerrada, mais ou menos adequada. Toda a gente menos o Veloso, que agora tem a mania que é tripeiro dos quatro costados.
Por último, temos a história das letras do Carlos Tê: tanto que se elogia esta parceria para tão pouco de interessante que ela trouxe ao mundo. Convenhamos que as letras do Tê estão para a música portuguesa como as mamas da Vanessa Paradis estão para a generalidade do universo mamário à escala planetária: não são más, mas estão longe de ser as melhores.
-Ui, que frio... esta água do Guincho ainda faz as minhas maminhas parecerem mais pequeninas...Posto isto, e agora que já desabafei e disse mal de alguém, só tenho uma coisa acrescentar: adoro ter este blog. Faz-me melhor à depressão do que a Sagres, o Prozac ou uma bela noite de javardice sexual. Bom, a javardice sexual também me anima... Enfim. Já me sinto melhor.