Querida Guitarra
segunda-feira, janeiro 23, 2006
  Post sobre política
Peço desculpa, eu sei que isto é um blog de música e isso, mas a figura do Presidente da República merece-me uma breve reflexão. De qualquer modo, com o aviso postado no título e esta introdução de advertência, é permitido ao leitor desistir de imediato da leitura das palavras que se seguem. Fica a nota.


Hannibal, não mordas nas pessoas

A vitória de Cavaco não me assusta particularmente. Aliás, nem sequer me deixa profundamente desapontado. Não houve qualquer tipo de surpresa. E não me refiro apenas ao que diziam as sondagens. Basta olhar para o lançamento das candidaturas para perceber que só existia, entre os "presidenciáveis", um único candidato capaz, com um perfil minimamente consistente para cargo de tamanha importância: precisamente Cavaco Silva. Não quero com isto dizer que votaria em Cavaco ou que fiquei feliz pela sua vitória. Pelo contrário: fiquei chateado por não ter no boletim de voto um único candidato - quando digo "candidato" refiro-me a "um gajo ou uma gaja qualquer que tivesse hipóteses reais de vir a ocupar o cargo", portanto, não incluo neste lote Louçã, Jerónimo ou o outro senhor que aparece na televisão sempre que há tempos de antena - que eu considerasse como válido, isto avaliando as capacidades exigíveis a um chefe de Estado: capacidade de comunicação, mentalidade forte, personalidade vincada, sentido diplomático apurado e provas dadas, de modo irrefutável, no mundo político. Contudo, a perspectiva de uma vitória do PSD nas próximas legislativas (em 2009) é uma imagem um pouco assustadora. Cabe à esquerda e ao povo português, na sua imensa sabedoria*, não deixar que a direita venha reger o país ocupando todos os principais cargos de Estado.

Sócrates, toma lá a cicuta

Deve haver várias leituras para o sucedido com as candidaturas made in Largo do Rato, suponho. Contudo, e não sendo eu analista político - não passo de um guitarrista talentoso, cheio de gajas por todo o lado, de fama praticamente internacional -, limitar-me-ei a escrever sobre aquilo que mais me saltou à vista. Parece-me que Soares foi, sem dúvida, um erro de casting (como se diz na gíria política). José Sócrates foi inábil a lidar com a situação - tudo bem que o velhote foi teimoso. Mas havia mesmo necessidade de deixar que ele se atirasse de cabeça à humilhação? Sócrates não fica bem na fotografia (também se diz muito esta expressão na gíria dos comentadores políticos). Mais que não seja, por ter deixado que uma figura ímpar da história política do século XX português saia do circuito pela porta pequena, após pesada derrota que roçou a humilhação - só não falo em humilhação porque alguém que tem um currículo como o de Soares é praticamente intocável, ainda mais aos 81 anos. Pode ser uma visão condescendente das coisas, mas prefiro lembrar-me do Soares vigoroso que deu a volta a uma situação aparentemente irreversível, contra Freitas do Amaral.

Alegre quase feliz

Já a situação de Manuel Alegre é qualquer coisa difícil de explicar. De (pré-)candidato dos socialistas passou a enteado do PS. Não se ficou: sentindo-se traído e acossado, traiu de volta e esfaqueou com mais força que os seus camaradas. De forma organizada e reunindo apoios de relevo, sobretudo do campo das artes, Alegre granjeou simpatias, dividiu o eleitorado socialista (com vantagem para Cavaco, digo eu), pescou votos na esquerda profunda e terminou em segundo lugar com uma votação de peso - mais de 20% sem apoio partidário, quase obrigando Cavaco a uma segunda volta. Embora o feito - a tal segunda volta - tivesse tido o seu quê de notável, o certo é que saiu mais barato ao erário público a resolução da situação às primeiras (abençoados 0,59%). Até porque Alegre tem boa vontade, boa dicção e sabe escrever. Pode mesmo ser bom como tribuno de referência num parlamento cronicamente adormecido. Mas não consigo imaginá-lo como primeira figura de Estado. Fica, no entanto, a questão: deveria o PS ter apoiado Alegre? A resposta pode não ser fácil. Contudo, e voltando a Soares, a solução adoptada não foi seguramente a mais apropriada. Aliás, os resultados falam por si.

O puzzle da esquerda

Falta-nos a restante esquerda, a eterna esquerda. Como diria Jorge Palma, "em vez de ficarem unidos / dividiram-se em mil partidos / lá no fundo, todos queriam ser ditadores". É uma análise redutora, é certo. Existe na esquerda portuguesa uma necessidade de afirmação (de sobrevivência?) que obriga a que os diversos partidos "marquem presença" ou, numa hipótese mais ligeira, "prestem apoio a" de forma explícita, inequívoca e que dê direito a louros no dia do juízo final. É uma política legítima. Mas não sei se é uma orientação inteligente. Não vejo o que possa ter ganho, por exemplo, Francisco Louçã ao expor-se a um combate em que o objectivo do Bloco de Esquerda passou tão somente por cimentar a sua posição. Não me parece que uma eleição presidencial seja um sufrágio adequado a tais estratégias - as pessoas não votam nos partidos, mas antes nas pessoas (de outra forma, como se explicaria a votação em Soares, apoiado por um partido que há meses atrás conseguiu 45% dos votos dos portugueses?). Louçã foi à fogueira e queimou-se, tendo obtido uma menor votação absoluta. Não é grave, mas é desperdício. Uma esquerda unida em torno de um candidato forte e unânime seria sem dúvida mais proveitoso. Situação a repensar. O que digo para Louçã vale para Jerónimo de Sousa, embora este tenha conseguido uma votação absoluta superior à da CDU nas últimas legislativas. Penso que não me estou a esquecer de ninguém... hum... ora deixa ver... ah, espera, espera, espera... o senhor Garcia Pereira. Figura assídua das campanhas eleitorais, Garcia Pereira prima por animar tempos de antena com teorias revolucionárias e reunir pequenos aglomerados de gente, do Jardim Constantino - entre uma bisca lambida e uma mãozinha de sueca - aos bairros degradados e ruas esquivas do Intendente. Não há nada que Garcia Pereira mais aprecie do que uma valente indiferença nacional à sua teimosia em ir a votos. Ou, em última análise, à sua obstinada existência política.

Conclusão

Resta-me acrescentar que o resultado desta eleição é, de um modo geral, justo e, mais ainda, justificado. Ao vencedor, as felicitações e votos de um bom mandato - reservo-me o direito de exigir, ao longo da sua estadia em Belém. Aos vencidos (todos os outros candidatos), apenas um conselho: que vos tenha servido de lição. Aos eleitores, os meus parabéns porque, como disse o ministro Correia de Campos, "compareceram de forma não ausente" ao acto eleitoral. Isto é notável - a frase, não o acto do eleitorado.



*sabedoria do povo português - 3 porções de ignorância, 2 de aventais, isqueiros e canetas, 2 de "acho que é o que toda a gente vai votar", 1 de intuição, 1 de improviso, 1 de indecisão e 1 de engano a fazer a cruzinha.
 
Comments:
Caro guitarrista:

Pertences À geração que um dia foi rasca mas renuncias ao passado. Penso que me lembro de ver a tua (nossa) geração percorrer as avenidas das vilas e cidades em protesto contras as politicas desse senhor. Mas afinal ele ate e um bom rapaz. Um mal menor pelos vistos. Ainda me vou rir um bocado nos proximos 4 anos.

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Os Portugueses têm infelizmente uma memória muito curta. Elegem Cavaco como se fosse fazer algo para mudar as políticas económicas e sociais q estão a ser implementadas. O cenário de um novo Governo à direita é de facto assustador, mas já todos esqueceram o q foi Durão Barroso, por ex, e depois o nosso melhor humorista politico Santana Lopes
 
Guitarrista, acho que és mais um dos manipulados desta merda toda. Houve um presidente anunciado (o presidente que, no fundo, o maquiavélico Sócrates queria, por isso não apoiou Alegre e mandou o velhote para o matadouro com as suas blandícias), esse presidente foi fabricado com muito dinheiro (dos grandes empresários), muito apoio das máquinas dos partidos da direita e, no fundo, do PS, e de toda a comunicação social numa campanha de imoralidade monstruosa como nunca se viu. Todos, até a esquerda, calaram ou denegriram o único projecto viável e moderno que era o do Alegre: uma candidatura contra os partidos, pelos cidadãos, um movimento que já deu grandes passos em Itália, p. ex., mas que aqui... O passado vergonhoso de Cavaco foi omitido, embelezado, aldrabado. Um homem como ele, que num contexto europeu favorável, qundo um homem como Felipe Gonzalez fez a Espanha dar o grande salto em frente e colocar-se nos primeiros da Europa, um homem como ele que preparou as bases para sermos os últimos da Europa (secundado depois pelo padreco Guterres), tem estatura para ser presidente se, como 1º ministro não teve visão, ambição, foi uma espécie de Salazar soft? Pensa bem, guitarrista famoso.
 
Hannibal Sovaco Silva já lá está e não há nada que se possa fazer.
Toda esta eleição é mais do mesmo. Uma fantochada.
A política, não só em Portugal, não passa de uma máfia legal que faz aquilo que quer. E não digo isto com mania de teoria da conspiração. Foi, é e será assim sempre. Os lobbies devem existir antes da roda e condicionam tanto as autárquicas, legislativas como a presidência.
Money talks. Wealth whispers.

Apesar de achar que não tem perfil de chefe de estado gostaria mais de ter o Manuel Alegre como presidente nem que fosse pelo simbolismo. Um presidente poeta!
 
Para que serve um PR, nos tempos que correm? Esqueçamos, por um momento, a dita "bomba atómica" constitucional, cujo uso está reservado para momentos em que o absurdo toma conta do país (veja-se o governo de Santana Lopes), e concentremo-nos na gestão corrente dos desígnios nacionais.

O PR paira sobre as "forças vivas" do país, aconselhando-as, apoiando-as ou admoestando-as à medida que o equilíbrio se vai instabilizando. Pede-se-lhe, portanto, que seja isento e equidistante. Cavaco Silva não o é.

O PR sente o pulso ao país e lança (comanda, até talvez) o debate sobre os grandes assuntos que estão fora das prioridades do Governo. Pede-se-lhe, portanto, que seja atento, interessado e consciente do país real. Cavaco Silva não o é.

O PR faz os discursos de Ano Novo, arenga na AG da ONU, participa nas reuniões de Chefes de Estado da UE, etc. É a face humana do país, para além das estatísticas, dos indicadores, dos números e das famílias políticas. É a face de Cavaco que Portugal vai apresentar nos próximos dez anos. É esta a face que queremos para Portugal?

O Povo votou como vota desde há anos e anos para cá - votou contra. Contra o Governo, está bom de ver, contra o aumento da idade da reforma e do IVA, entre outros. O problema é que, quando se vota contra numas legislativas, vota-se a favor de outros que irão fazer melhor ou corrigir o que foi feito pelos visados. Cavaco não pode fazer nada, só pode desfazer. O Povo errou (e eu tenho plena consciência da enormidade que estou a dizer).

As candidaturas "gémeas desavindas" à esquerda não creio que tenham favorecido o Cavaco, antes pelo contrário. Digo mais: ainda estão para me convencer que não foi tudo uma manobra bem planeada no Largo do Rato. É que, sem uma delas, a afluência do eleitorado de esquerda às urnas teria sido bem menor e a vitória do Cavaco retumbante.

Dito tudo isto, Cavaco Silva é o PR, o presidente de todos os portugueses. Atacá-lo, agora, de nada serve e abre precedentes perigosos e feridas dolorosas na imagem da primeira figura da Nação. Esperem que ele comece a asnear (não deve demorar muito) e aí, sim, dêem-lhe. Com tudo. Com força.
 
Primeiro o Sheriff: não só não reneguei o passado como não votei (lagarto, lagarto, lagarto!) no Cavaco! Agora, não esperem que eu passe a vida inteira em mánifs contra o sistema - quem assistiu a uma manifestação do estilo (estudantes, no caso) como eu assisti - e participei - sabe bem ao nível a que aquilo desce: nem uma ideia, apenas propaganda "anti"-qualquer coisa, meia-dúzia de pessoas esclarecidas e com razões para estar ali, o resto a agitar os braços, gritar slogans e fumar ganzas. Não me parece construtivo.

Para o FGuerra: limitei-me a analisar o cenário pós-eleitoral. O texto não é, de forma alguma, uma apologia de Cavaco. É apenas uma análise pessoal, nada mais. Concordo com a campanha mediática da qual Cavaco beneficiou. Mas o que é certo é que os outros lhe deram espaço - repara, eu não digo que Cavaco é melhor; os outros é que foram mais fracos. Já quanto a Alegre, essa história da "candidatura moderna contra os partidos, pela participação cívica" é muito bonita e poética agora, ´depois de ele ter perdido o apoio do PS. Se op Sócrates não lhe tivesse tirado o tapete, seria só mais uma candidatura partidária.
 
"concordo com A TUA IDEIA de campanha mediática de que Cavaco beneficiou". Fica o esclarecimento.
 
A ideia das duas candidaturas PS ser pensada é bem interessante. Acho que faz sentido ao pensar que a hipótese de segunda volta aumentou com isso.

Cavaco a face de Portugal.
Desculpem o mau françês mas é triste ter-mos cara de cu.
 
A teoria do Sócrates, blá blá blá, aumentar possibilidades de 2ª volta com 2 candidatos não está bem explicada. Como seria se Alegre passase à 2ª volta? O PS apoiava? E Alegre aceitava? E então onde é que ficava o "movimento de cidadãos contra o poder dos partidos"? A mim ninguém me cala...
 
Eu explico, então.

Reportemo-nos há uns meses atrás, quando se começou a falar de possíveis candidatos apoiados pelo PS. O primeiro nome foi o do Alegre, recebido com generalizada frieza. Depois falou-se de Guterres e de Vitorino, sem que isso passasse de conversa de bastidores. De repente, o ovo de Colombo: Soares. E, de repente também, o Alegre passou a ser uma excelente ideia (por comparação com o Soares).

Que ganha o PS com isto? Ganharia sempre - desde que houvesse 2ª volta. Se esta fosse com o Soares, seria o candidato do partido. Se fosse com o Alegre, que foi um candidato "independente" que nunca se desfiliou do seu partido nem abandonou os cargos que tinha por essa via, o PS teria que "engolir um sapo" e o cidadão teria a hipótese de castigar o partido do Governo, como tanto gosta de fazer. Mau para o PS? O quê, ter um histórico do partido em Belém? Hummmmm...

N.B. Eu gosto muito da campanha que o Alegre fez, mesmo sem a fundamentação ideológica das "pequenas esquerdas" (que me faz falta, admito). Mas a tónica na cidadania é algo que me é muito caro e tristemente ausente da nossa sociedade actual. No entanto, não duvido que, nos momentos da verdade, a voz do "sangue" rosa falaria mais alto e Alegre alinharia ao lado dos seus companheiros de sempre - desde que não nos esqueçamos que o PS de Sócrates não é o PS de Alegre...
 
Por acaso, considero que, se houve alguém que saiu a perder desta contenda, esse alguém foi Sócrates (e o Louçã, mas agora não interessa para o caso).

Pelo partido. Que imagem fica daquela organização?

Nenhuma, para algumas pessoas, má, para a generalidade das mesmas.

Desorganizado, deixou-se bipolarizar numa luta que deveria ter sido encarada de frente, contra tudo e todos (da direita, está bom de ver).

E, já agora, com um candidato que tivesse reais hipóteses de se bater com o Sr. Silva - que "era" candidato há 10 anos.

Pelo Primeiro-ministro. Aquela rábula de se sobrepor ao Alegre (premeditada ou não, não interessa), como quem diz, de testa e nariz franzido, mostarda a chegar ao canto da cartilagem: «Não, não, já chega de festa, agora quem manda sou eu! Eu e mais ninguém!», saiu-lhe mal.

Tenho de concordar com o Z.

Este Cavaco é a antítese de um bom Presidente. Se o velho é o Soares (81 anos), pelo menos na idade, então o Sr. Silva é um dinossauro - o gajo é retrógrado, mau comunicador (e assim, não estou a ver como vai agendar os temas deste país), falta-lhe agilidade e inteligência. É um bom técnico - e poderia passar o resto da vida atrás de uma secretária, na Direcção Geral de Contribuições e Impostos, que não faria diferença.

Parece-me também que o Soares ainda conserva algumas das qualidades necessárias, mas já não podia ganhar esta eleição - o povão já lhe tinha entregue as chapas para ele gastar nas "arcades" do Salão de Jogos. E ele gastou-as todinhas. Nesta, tenho de concordar com o povão.

O Soares também não saiu a perder - a história dele é inatacável. Vai para casa e vai dormir bem, esticadinho.

E aqui entra o Sócrates. Com um percurso por fazer, com uma história ainda por contar, o caminho dele (dentro e fora do partido, dentro e fora da Assmbleia) pode ficar minado pelos amigos do Poeta Alegre - que seria, na minha opinião, um fraco presidente.

Ele ainda é um romântico deputado, e daí nunca passará.

Agora, que tem muitos apoios, lá isso tem - e este pode ser um cravo atravessado no caminho do esquiador Sócrates.
 
Bom, continuemos então. Estou a gostar. Temos, em jeito de resumo: Alegre era uma boa opção (pelo movimento de cidadania) mas uma má solução (falta de... o resto); Soares foi atirado/atirou-se do precipício; Cavaco é uma má escolha do povo português (vide o * sobre "sabedoria popular portuguesa" no final do post). Resta saber onde é que estaria a solução para uma tão má paleta de candidatos à nossa frente no boletim de voto... Alguém tem sugestões?
 
Só assim de cabeça e sem datas porque datas não é, de todo, o meu forte:

Manif. da geração rasca contra as primeiras provas globais do secundário resultou em testes facilimos para toda a gente passar e ate melhorar as notas e ainda com a benece de permitir que os que resistiram ate ao ultimo dia acedessem à 2ª fase.

Manif. dos estudantes da sec de Mafra contra os abusos da empresa viação mafrense(barraqueiro) que detem o monopolio dos transportes publicos na zona. Não penses que os autocarros param à porta da escola graças a boa vontade do espirito santo.

Buzinao da ponte que levou à criação de regalias para os utilizadores habituais.

Só assim de cor, sem pesquisa e sem perder muito tempo. Se não foram construtivas estas formas de luta pelo menos os objectivos dos manifestantes foram atingidos. Só não estive na ultima porque vivo a norte do tejo. Durante todo o secundario os meus cadernos exibiram imagens de algumas destas lutas que fizeram a delicia dos media da altura. Nunca me deu tanto prazer exibir o rabo de um homem (que não fosse o meu). Se hoje a geração playstation tivesse os mesmos valores, que admito na altura nem toda a gente tivesse bem organizados, talvez nao fossem os inuteis que são. E se outras gerações, incluindo a minha, tivessem mantido a bitola talvez nós não tivessemos passado de geração rasca para geração à rasca.

Estás no teu direito de achar que, na altura, foi mais uma paródia de garotos. Permite-me discordar!

Abraço

www.cidadesemlei.blogspot.com
 
Guitas, correndo o risco de sobrepor conceitos, estas foram as eleições mais penosas em que participei (e participo sempre, diga-se, e já lá vão umas quantas, diga-se ainda). Porque nestas eleições, com a possível excepção dos indefectíveis do BE, do PCP e do PCTP, ninguém votou a favor de nada. A esquerda votou contra o Cavaco em candidatos que levantavam grandes reservas e a direita votou contra a esquerda num candidato que, acredito piamente, também lhes custa a engolir.

Há uma última coisa a discutir, e que deve ser cuidadosamente ponderada: o tratamento dispensado ao Garcia Pereira, vergonha nacional que devia ser objecto de actos de contrição dignos de Egas Moniz. É que, a continuar assim, pra próxima só vamos ter debates entre dois ou três candidatos, por força de um muito duvidoso critério de expressão antecipada nas urnas.
 
Vejo aqui uma ideia geral expressa de forma muito categórica de que fulano não dava para presidente apesar de..., e que fulano dá embora seja mau. Acho que não é racional! Como se pode saber se fulano não daria para presidente se nunca lá esteve, se nunca experimentou nem nós a ele? Votamos em imagens, em ideias feitas, em «ses», ou votamos em projectos ou em programas?. E votamos nós ou as televisões e os institutos de sondagens, a maioria feitas a pedido para vender este ou aquele candidato? Gostaria também de dizer que as pessoas que mais interpretam e mais pensam a política, os analistas ou os que vão na conversa das análises políticas (como nós) não fizeram a grande votação do Cavaco e não fizeram certamente a grande votação do Alegre. Tentaram calar ou deturpar a ideia de cidadania de Alegre com raciocínios colaterais, que é poeta, que é histórico logo antigo, etc, que é lírico, quando ele tinha de facto o projcto mais à frente de todos e que, ainda agora, se pode converter num movimento moderno para moralizar a vida política. Acho que o «povo» não analítico o preferiu ao Soares por causa disso. Ou seja, analisou melhor que os grandes analistas.
 
Z, estamos de acordo em relação a tudo isso. Já disse e repito: este post é uma análise PÓS-eleitoral, aos resultados. Não uma manifestação ou apologia. Não é de teor ideológico nem pró ou contra coisa alguma. São constatações do meu ponto de vista.

Aproveito para me dirigir novamente ao Sheriff: andamos a misturar alhos e bugalhos. Primeiro, acusas-me de renegar os tempos das manifestações estudantis só porque faço esta análise. Explico-te que não renego e que esses tempos já lá vão, porque, pelo que experimentei e pelo que vou vendo, não encontro justificação para participar nessas mánifs - desde a "causa timorense" (um dia falarei aqui sobre isto) que a maior parte desses movimentos me parece "de rebanho" e um tanto acéfalo na relação entre causa fundamental e indivíduo manifestante. Não confundas isto com o que dizes: nunca poderia opor-me à manifestações! E o caso da Ponte 25 de Abril, que tão bem repescaste, parece-me que não é comparável com a manifestações sazonais dos estudantes do superior ou dos manifestantes anti-golbalização. Certo? Há causas justas e gente esclarecidada que se manifesta por elas. E outras causas que não passam de fait-divers para entreter pseudo-esquerdistas desocupados que, daqui a uns anos, serão uma cambada yuppies que nem sequer faz usufruto do cartão de eleitor. Esclarecido?
 
(Desculpem-me. Eu sei que me devia ter candidatado. O Guitarrista foi simpático e comedido quando traçou o meu perfil: "capacidade de comunicação, mentalidade forte, personalidade vincada, sentido diplomático apurado e provas dadas, de modo irrefutável, no mundo político." Mas vocês sabem que só não o fiz por motivos de força maior. As forças vivas - se ainda o estiverem - que falem comigo daqui a 10 anos.)
 
Se o Alegre vem moralizar a vida política aos 70 anos (com pelo menos 30 no activo, politicamente falando), então eu ainda vou a tempo de melhorar as minhas notas do 12º ano.
 
não vais?
 
Não
 
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