Que saudades da Madalena Iglesias...
Ninguém me convence que um rapaz chamado Bruno Nicolau ou um grupelho intitulado Non Stop são dignos das funções que irão desempenhar no próximo dia 10 de Março. Nem a outra, a Lara Afonso ou a Vânia Oliveira, mais a Natalie Insoandé ou a Madison Lucia. Muito menos o asqueroso do Beto, a indefinível Cuca, o menos que anónimo Ricardo Moraes ou a imaginativa Mariafolia. Não me convencem mesmo.
Não sabem do que falo? Pois, quem haveria de saber?... Já lá vai o tempo em que estas coisas eram rituais quase sagrados de maratona televisiva, ansiedade pelas votações e comentários em família, em serões animados. Infelizmente, nos tempos em que tinha alguma importância, eu ainda não tinha idade para beber a cerveja nem fumar a droga. Agora tenho, mas o festival RTP da canção já há muito perdeu a piada e o valor - desde que a Dora, a Nucha e os Da Vinci começaram a pôr os pés em palcos que outrora haviam servido as Doce, o Carlos Paião, a Tonicha e outros grandes vultos das músicas ligeira e popular portuguesa, para ser mais preciso. Salvou-se - o termo é gerado pela bondade e pela falta de outras escolhas dignas de menção - a participação singela e trabalhada com um mínimo de esforço - um esforço para além do "aqui, no refrão, diz-se uma expressão que pegue" e meia-dúzia de coreografias duvidosas (qual duvidosas? De maus gosto mesmo!), por entre clichés, banalidades e outras peculiaridades em que a Rosa Lobato DE Faria é autêntica guru - falava eu em tom de quase-elogio da participação rara num passado recente de Lúcia Moniz pelas andanças cançoneteiras patrocinadas pela televisão estatal. Tudo bem, a Rita Guerra merece algum tempo de antena. Mas podia ficar calada e simplesmente mostrar as pernas e as mamas. Cantar para quê?
Louve-se, por um lado, a iniciativa da RTP: a recuperação do "festival" tem o seu quê de serviço público. Devolve um mínimo de credibilidade ao representante português no Eurofestival, que ultimamente tem sido escolhido e colocado por "alguém", um misterioso "alguém", que, seguindo critérios igualmente misteriosos, aponta para um monte de criaturas que gostavam de ganhar os Ídolos ou a Operação Triunfo - e actuar, durante a vida inteira, em palcos das aldeias recônditas onde (julgam que) são venerados - e diz "tu aí, anda fazer má figura para a Europa ver". E o imberbe ou a adolescente com pretensões a actriz nos Morangos com Açúcar, para além das mencionadas tournées pelo vasto interior Tuga, levanta-se e, sorridente, dá um passo em frente. A seguir dá entrevistas à TV Mais, à TV Guia e à TV 7 Dias. É então que ficamos a saber que os pais eram "humildess", que largou os estudos no 10º ano para enveredar por uma carreira no mundo da música, blá blá bla e que não se importava de pousar nua "desde que fosse artístico". Tuga-typical. Anos mais tarde, quando ninguém se lembrar da figura, há-de participar numa Quinta das Celebridades, ou algo que lhe valha, a convite da Endemol (que, ainda mais tarde, irá explorar os dividendos obtidos pela promoção da pessoa em questão. Tudo tem um preço na vida.).
Já estou a divagar. Louvava eu a recuperação do "festival". Porém, não compreendo como se pode ser tão incoerente: que raio de critérios justificam a escolha DESTES participantes? Acham que sou pretensioso? Arrogante? Humpf... ok, aqui ficam os títulos das músicas a concurso: Um Dia Durei (coelhinho da Duracel?), Alma Nova (inovador...), Tu e Eu (gosto especialmente deste), Bem Mais Além (lindo!), Nunca Mais Digas Adeus (o Toy não fez já uma coisa assim no género?), Sei Quem Sou (o Paulo de Carvalho não vai gostar disto), Durmo Com Pedras na Cama (também eu... tem dias), Vem Dançar (Chiquita?! Voltaste?!), O Amor é Uma Fonte (...creepy...) e As Minhas Guitarras (que é sobre mim, seguramente).
Posto isto, eu pergunto-ma: onde andam uns Trio Odemira? E o Nel Monteiro, hein? Que é feito? Querem ver que desde que o Dino Meira, deus o tenha, se foi, nunca mais houve música de jeito em Portugal? Hã? Mas afinal quem é essa Madison Lucia para já aparecer na televisão? Tenho para mim que isto é tudo uma grande aldrabice! Como disse aquela senhora, "isto é um Timor-Leste autêntico"!