A Cigarra e a Formiga - remix
Era uma vez uma cigarra que passou um verão inteiro a cantar, nos festivais da Zambujeira e de Paredes de Coura e isso. E também era uma vez uma formiga que, como tinha pais pobres e quase analfabetos e que tirava más notas na escola e que passou o verão inteiro a trabalhar - por sinal, num sítio um bocado xunga, ali no Bairro Alto, que, ainda assim, passava um som razoável. A formiga foi poupando o dinheirinho que ia trazendo das suas noites de trabalho para poder comprar umas coisitas para si e, quem sabe, ir ver uns concertos na rentrée, enquanto a cigarra ia depositando na sua avultada conta bancária cheques com muitos zeros que davam para comprar, cada um deles, uma data coisas e ver os concertos que lhe apetecesse.
Tapete do quarto da cigarra. Pormenor.Até que numa noite de loucura e grande bebedeira, a formiga comprou uma quantidade algo exagerada de droga. A droga, já se sabe, é cara e vai que é um instante. Fumou e snifou até cair para o lado, ou seja, estoirou tudo o que tinha ganho durante um verão inteiro de trabalho e nem sequer tirou grande proveito disso. A não ser uma ressaca descomunal, com vómitos e tudo.
"'Tás a ver? Isto é um lá..."Certo dia, lá nesse bar do Bairro Alto, entra a cigarra, toda pomposa e convencida, mesmo naquela à rock star. A formiga admirava muito das músicas da cigarra e gostava de ir ver o concerto da sua banda, que ia ser no Coliseu, a fechar a tournée de Verão. Vai daí, põe-se a pedir um autógrafo à cigarra. E a cigarra, amável e experiente nestas andanças de ser famosa, vai e dá-lho, muito sorridente. A formiga nisto perde a vergonha e diz "ah, ó cigarra, eu curto bué do vosso som e gostava de ir ver o vosso concerto ao coliseu". E a cigarra "ah, pois". E a formiga, ainda mais desinibida "só que eu andei a trabalhar o verão inteiro e"... e a cigarra "ah ah ah, e eu andei a cantar o verão inteiro..." e a formiga "só que gastei o meu dinheirinho todo na droga e agora não tenho como comprar o bilhete... não me podes arranjar uma entrada à pala?". "Não" disse a cigarra. E a formiga "ah, então e agora o que é que eu faço?" e a cigarra "olha, filha, agora canta. No metro ganham-se uns trocos".
Não sei se estão a ver a moral da história.