Querida Guitarra
sexta-feira, abril 29, 2005
  Aconteceu em Cascais
Levam-me tudo. Aos poucos e poucos, o imaginário memorizado em anos e anos de infância e adolescência vai perdendo o sustento físico, a matéria sobre a qual se erigiu. Há alguns anos atrás, deitaram abaixo a antiga casa dos meus avós, que ficava numa cerâmica grande, onde se fabricava o tijolo, na boa tradição industrial do Oeste estremenho. O edifício ainda hoje se faz cenário de alguns sonhos que tenho. O ambiente rude da maquinaria arcaica espalhada pelo o espaço amplo, a serradura e o seu cheiro empoeirado, o barulho das panelas que alimentavam os fornos, a sirene de aviso ao telefone, o cheiro a óleo na entrada, o calor insuportável de um chão que se contorcia à hora de cozer o barro. Um ambiente entre o grotesco e o fantástico, concerteza povoado por super-heróis, aberrações, maldições e bons enredos da minha autoria, que ali fui crescendo, desfrutando da envolvência do sítio. Hoje, no lugar da velha cerâmica, está pousada uma colorida escola, muito arrumadinha. Parece de plástico. Não sobrou nem a imponente chaminé.

Mais tarde, a tragédia-maior: a minha escola primária! Ó, homens banais e ignorantes, que fizestes vós? Onde está a minha escola primária? Um edifício belíssimo, no estilo típico da arquitectura do "regime". De um só piso, rente ao chão, com jardim em frente e nas traseiras. O alpendre, lá atrás, que abrigava a entrada para os lavabos. Muita bola se jogou ali. No dia em que sobraram os escombros, olhei e comovi-me. No dia seguinte, nem os escombros sobravam. Agora é um pátio grande, que não serve para nada. Desconfio que a destruíram só por maldade.

E há mais sítios da memória que a ruína levou a baixo. A ruína ou a impiedosa mão dos homens no tempo. O Estádio da Luz... ó, o Estádio da Luz. Vê-lo ali, amontoado em despojos de betão desarmado e tijolo antigo. Antes já ele fora amputado, na curva sudoeste. Como um velho a quem roubam a dignidade.

E agora isto... E agora isto! Fiquem sabendo que o dia 2 de Maio de 1996 será impossível de esquecer. Billy Corgan, que na altura era um Zero de esquerda, um cometa cheio de brilho na pele da cabeça rapada, despenhou-se a poucos quilómetros da serra de Sintra, numa cápsula cuja tripulação incluía James Iha, D'Arcy e Jimmy Chamberlain. Chovia muito e a praça de touros de Cascais mais parecia uma piscina. Como não é uma piscina, vão destruí-la em Junho.

Quando eu contar aos que virão as coisas que fui vivendo e onde as vivi, quantos destes acreditarão em mim? Como poderei mostrar-lhes o mundo onde cresci? Provavelmente, serão histórias desinteressantes, de qualquer forma. Desculpem incomodar-vos com o desabafo. Vou falar com uma autarquia qualquer para que se proceda, o quanto antes, à demolição da minha memória.



 
  Comentários
Só para experimentar a nova maquineta de comentários, deixo aqui uma estatística porreirinha para que o meu bom povo auditivo-festivaleiro se pronuncie.

Ora, cá vai: um português bebe, em média, 61,7 litros de cerveja... POR ANO! :)

Não acham lindo? Num ano?! Isto é gente que não sai de casa.
 
quinta-feira, abril 28, 2005
  Plim! - fez-se luz e lembrei-me
Há muito que eu já devia ter feito isto, mas a minha cabeça já não dá para tudo. Hoje, felizmente, volto a estar de ressaca e, portanto, o cérebro está ordenado como a mãe-natureza manda e deseja. Logo, lembro-me destas coisas importantes.

Venho, por este meio, aconselhar visitas atentas e assíduas ao sítio Portugal Musical.

É feito por gente séria, do métier, que sabe o que diz e que quer mostrar o que há de novidade na música portuguesa. A região de Lisboa é, por enquanto, a mais privilegiada ao nível do cardápio. Mas, quando crescer, porque vai crescer, o sítio ser... o que é que eu ia a dizer? Estou cá com uma dor de cabeça...
 
quarta-feira, abril 27, 2005
  Respostas literárias
Dando seguimento e brilho à corrente que o gerente da Tasca me encaminhou. Ei-las, as aguradadas, sempre sábias e cristas respostas:

Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Guerra e Paz, do Tolstoi. Tenho uma costela graicomítica.

Já alguma vez ficaste apanhadinha(o) por uma personagem de ficção?
Errrrr... pode-se incluir ícones religiosos?

Qual foi o último livro que compraste?
Pergunta muito difícil. Quando compro, compro vários e já não o faço há algum tempo... Mas o último que me ofereceram foi o Doutor Fausto, o do Thomas Mann. Não sei se o vou ler. Tem um aspecto muito volumoso.

Qual o último livro que leste?
O último mesmo, de uma ponta à outra, foi O Estrangeiro, do Camus. Muito à maneira, mesmo. Fininho, letras grandes... lê-se muito bem.

Que livros estás a ler?
Sou um bocado caótico nas leituras, tendo várias dezenas de livros a meio, a dois terços, com retrocessos de 20 páginas para voltar a apanhar o fio à meada, inacabados irreversíveis (Cem Anos de Solidão e O Castelo à cabeça) e alguns esquecidos atrás do frigorífico (assim, de repento, lembro-me dos Prolegómenos a Toda a Metafísica Futura, do Kant). Normalmente, estou a ler vários livros - não diria ao mesmo tempo, mas "no decorrer de determinada era"... Comecemos, a ver se me lembro de todos: O Náufrago, de Thomas Bernhard (há cerca de 6 meses), Os Cadernos do Subterrâneo, de Dostoievski (há mais de um ano e meio... tenho que acabar este), A Carta ao Pai, do Kafka (este gosto de ir lendo muuuuuuito devagarinho, relendo várias vezes cada página). Também estou com dificuldades no último quinto de Malone Está a Morrer, do Beckett, que é um livro que gosto de ler em comboios. Ultimamente não tenho viajado de comboio. O ideal é um intercidades Lisboa/Porto, ou vice-versa. Os outros comboios têm muito ruido e turbulência. E os Alfas andam muito depressa, só dá para ler umas 40/50 páginas numa carruagem para fumadores, com idas ao WC incluídas. Dei início à leitura de 1984, do Orwell, mas esse quero ler todo de seguida, pelo que terei de reiniciar a função. O Selvagem emprestou-me A Metade Sombria, do Stephen King, mas não estou a gostar muito, não sei se o vou ler todo. Tem muito sangue. Acho que não me estou a esquecer de nada.

Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
Confissões, de Santo Agostinho, O Homem Que Era Quinta-Feira, de G.K. Chesterton, O Conceito de Tempo, de Heidegger, Diário de Um Louco, de Nicolai Gogol, e Os Cinco e a Ilha do Tesouro, de Enid Blyton.

A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?

À Catarina, porque ela sabe ler.

Ao Fozzy, para que ele regue a literatura com suco biliar.

À Mi, se ela pedir ajuda ao seu rebento na elaboração das respostas.
 
  Comentários
Depois dos tempos recentes, e com a entrada de novos comentadores neste blog sério e digno, pensei para mim "Ai, Guitarrista, queres ver que os comentários foram abaixo porque esgotámos a nossa cota de boçalidade?". Afinal, não. Assim que a CommentThis.com resolver o assunto, ainda deve dar para comentarem mais meia-dúzia de pensamentos imbecis.

http://www.commentthis.com

"We've had a server failure. We are working to get everything running again. Regards,The CommentThis admin."

Se entrarem no endereço acima, será esta a mensagem que encontram. Se entretanto quiserem muito conversar comigo, mandem-me e-mails ou cartas de amor com letras da Adelaide Ferreira.
 
terça-feira, abril 26, 2005
  Ainda sobre Bento XVI...
Que um Papa se chame João, Paulo, João Paulo, Sisto ou Gregório eu compreendo e até apoio. Cada um deve ter um nome seu, mesmo que para tal tenha que recorrer à numeração ordinal. Leão, por exemplo, é um bonito nome. Aliás, devia haver mais nomes de animais na Basílica de S. Pedro - Crocodilo XIV, Rinoceronte V, Ornitorrinco XXVII... Agora, um Papa chamar-se Pio ou Bento é o mesmo que um soldado chamar-se Armando, uma top-model chamar-se Linda ou um bombeiro chamar-se Salvador.
 
sexta-feira, abril 22, 2005
  Músicos freak


Bons velhos tempos!... Dantes, Jorge Ritto praticava violino diariamente e a sua performance melhorava a olhos vis... errr... a olhos ouvid... hum... a ouvidos ouvidos.
 
quinta-feira, abril 21, 2005
  Para consumo durante o fim-de-semana
Cumprindo a missão que as divindades da música me confiaram, aqui deixo mais um contributo para o desenvolvimento das artes e cultura nos circuitos periféricos. Porque o mundo não é só Lisboa. Também existe a área metropolitana de Lisboa.



No próximo sábado, dia 23, a partir das 22 horas e mais uma polegada ou duas, sobem ao mítico palco do Jorge's Bar (Xeihr-ahmy Djo, para a velha guarda), no Sobreiro (subúrbios de Mafra) o seguinte elenco, por odem de entrada (entra uma banda de cada vez, que o palco é apertado):

-Diana Jones and the Vietnam Whiskey Dancers;
-The Aster;
-Dying Dream.

Para quem estranhar os nomes, fica o aviso: é punk-rock, faz mal às orelhas e requer consumo avultado de cervej... minis.
 
terça-feira, abril 19, 2005
  Habemus Papam!!!
Aquele fumo é branco, pá. Nitidamente, eu vi!
 
segunda-feira, abril 18, 2005
  Melhor diálogo do fim-de-semana
(featuring O Bom Selvagem, aka OBS)

BS: Então Guitas, o que estás a tocar?

Guit: Hum? Não estava a tocar nada, pá, estava a dormir... Isto é um descontrofone...

BS: Descontrofone?

Guit: Iá. Toca-se assim, ó. Fui eu que inventei. O som que produz descontrai e faz-te adormecer. Queres experimentar? Põe as mãos assim.

BS: Assim?

Guit: Hum, pois... Não tens lá muito jeito para a música, pois não?... (pausa)

O que é que queres ser quando fores grande?

BS: Eu gostava de ser escritor e ganhar um globo de ouro. E tu?

Guit: Eu gostava de ser baterista... Eheheheh, estava a gozar. Para que é que queres um globo de ouro? Isso não é caro?

BS: O do Nicolau Breyner estava partido, o que me leva a crer que são ocos e de pechisbeck. (pechisbeck escreve-se assim?)

Guit: Acho que se escreve pechisbeque. Se calhar o Nicolau sentou-se em cima do globo... Mas para que é que tu querias um? Ganha-se globos de ouro a escrever livros?

BS: Não, o Nicolau ficou aborrecido dele estar partido. Deve ter sido o Herman. O Lobo Antunes ganhou um globo ontem. Eu estava a ver aquilo à espera que ele dissesse um disparate. Disse uma coisa engraçada, que cito agora de memória: «é suposto um escritor estar à frente do seu tempo por isso este reconhecimento em vida pode ser mau sinal mas muito obrigado ao senhor Francisco Pinto Balsemão» e foi-se embora. Fiquei eufórico!

Guit: partiram o globo ao Nicolau... Tchhhhhh... Tu achas que estás à frente do teu tempo, suponho. Um escritor deve confiar naquilo que escreve, deve sentir prazer quando lê o que escreveu e se sente um leitor entusiasta de uma bela escrita... É assim uma espécie de onanismo intelectual, uma coisa virada para as letras, mas com o seu quê de auto-satisfação. No fundo, é fazer sexo de cabeça contigo mesmo, não é? Foi o que ouvi dizer... Eu é mais música.

BS: Essa coisa do onanismo aplica-se àquela pequena escrita burguesa do escritor de domingo. A minha euforia advém da prova de que ao homem livre acaba por perdoar-se tudo, desde que não cometa crimes que lesem os outros. Olha o Frei Luís de Sousa era incrivelmente ácido para com a igreja e no entanto pagavam-lhe! Podes dizer, escrever ou cantar o que quiseres, quanto mais louco fores, mais vão gostar de ti, hoje, ou amanhã, mas de preferência hoje. O mundo morre de amores por se reconciliar com quem o rejeita, chegando mesmo a torturar e queimar quem não o quer. Olha, o Kurt Cobain, a Jean D'Arc ou o José Saramago.

Guit: Ah, pois. Faz sentido. (pausa pensativa)

Achas que se se descobrisse uma auto-biografia do Salazar passaria a existir uma possibilidade de reconciliação entre o povo português e o homem? Uma espécie de reintegração na sociedade imaginária dos portugueses? Um "Querido Líder", mas em morto, anti-comunista e escritor. Imagina, uma coisa em que ele desabafasse que tinha sentimentos e arrependimentos e medos e isso. Não falo numa reabilitação completa, que é demasiado tarde, mas numa alteração na perspectiva do povo. Embora neste caso seja o povo que o rejeita, e não o contrário, como no caso do Saramago. Mas também para castigo puseram-no a viver lá em Lanzarote... Dantes era no Tarrafal.

BS: Claro que sim, mais do que possível, essa reconciliação com Salazar é inevitável. Se pegarmos em Napoleão e escamotearmos o facto de ter causado a morte a centenas de milhar de pessoas e destruído a França, o que é que fica? Fica o Napoleão e a Josefina numa mini-série melodramática na TV. Como o Hitler e a Eva Brown. Fica... o Homem. Igual a nós. E mais te digo, Guitas, verás que quanto ao Salazar, já começa a ser reavaliado há muito. Para já é tido como «inevitável» e «factor de estabilidade» e que o que estragou tudo foram os últimos anos. Como com Cavaco. Os velhos dizem-nos "viva o 25 de Abril!" e querem que festejes com eles e eu digo-te, o 25 de Abril foi um dia e um dia só. O resto é fantochada. A liberdade dos filhos de Abril é uma democracia corrupta, políticos incompetentes, demagogias, populismo, consumismo frenético e endividamento. Aposto que, e paradoxalmente, os que vêem o 25 de Abril com mais amargura terão sido os que nele participaram, os únicos que foram cristalizados nesse dia: os Capitães de Abril. Devem olhar para o mundo de hoje e pensar «foi para isto?»

A verdadeira liberdade só faz falta a elites que têm algo a dizer: é um luxo. A maior parte das pessoas só quer trabalhar, viver, amar, ter algum dinheiro, paz, segurança e amor. Não pedem mais. Salazar deu-lhes guerra e fodeu-se por isso. Foi esse o motivo da revolução, não foi o não podermos dizer o que nos apetece. O chavão que ficou foi da liberdade. O homem só está feliz na servidão, seja a um líder, seja ao trabalho ou ao status, seja a Deus. O homem precisa de obedecer. Como um cão.

Guit: No fundo, o Homem comum é apenas uma variante canídea, de facto. És um bocado reaça, tu... A seguir vais dizer que o que fazia falta era o Telmo Correia a liderar o CDS. Por outro lado, acho que tens uma opinião gira. Eu olho para o meu povo auditivo, por exemplo, e o que eu vejo é sede de subserviência. Isto é gente que quer é encher os ouvidos com uma merda qualquer e dar à cabeça, a fazer assim, todo esguedelhado e andar com roupas a fingir que são velhas e que só por isso é que estão rotas. Tu sobes a um palco, ligas o microfone e eles dão-te tempo de antena: são submissos. Levantas o chinelo e põem-se logo de rabo para o ar. Dizes senta e eles dão-te a pata. Acham que isso é rebeldia que os conduzirá à libertação mas, no fundo, o que têm é defice de inteligência, pelo que existe uma falha de comunicação. Se quiseres que eles se sentem, gritas "dá a pata!" e fica tudo resolvido. É uma questão de saber lidar com eles. É como com o Salazar e o povo e o 25 de Abril e isso... era a mesma cena.

BS: Exacto, daí que nos teus concertos eu prefira ficar cá atrás, agarrado a um whisky, observando a multidão que se agita só para te mostrar que estão agradados. E também para dizer às miúdas que as posso apresentar a ti. Mas não me confundas com um "reaças". Sou muito menos reaça do que um Fernando Rosas. Eu dou armas de arremesso a sério e dou-as às elites, não ao cidadão comum que não sabe nem quer pensar. Estas últimas eleições nos EUA provaram isso mesmo. Nem o maior poder de Hollywood, das artes, do rock e da Pop pode mudar os resultados das eleições. Não se mudam as pessoas quando se querem mudar as pessoas. No máximo, podemos agregar pessoas em nossa volta, pessoas que se revêem em nós, e podemos assim subjugar os outros, nem que seja numa maioria absoluta no parlamento ou um fenómeno de moda. As pessoas comuns só gostam de quem lhes diz aquilo que elas idealizam que são. Dá-lhes isso e venderás discos. Foi isso que Lobo Antunes quis dizer quando recebeu o Globo de Ouro... Foi... cordial. Daí que cada vez mais dê valor ao «quero que os portugueses se fodam» do João Cesar Monteiro. Morder a mão que te dá de comer é a suprema liberdade.

Guit: Eu acho que o João César era meio chalupa. E mal educado. Os portugueses pagaram-lhe 120 mil contos para fazer um verdadeiro film noir. Do primeiro ao último minuto. Quero que o João César se foda, que deus o tenha e guarde, mas quero mesmo. O artista é um escultor de mentes e gostos. Um todo poderoso, mas no mau sentido, digamos assim. Eu sou um tirano! Quando me dá na gana sacar feedbacks insuportáveis, é como se pegasse na chibata e açoitasse violentamente a audiência, como se fossem escravos e eu senhor. Só que com barulhos e grunhidos. É um bocado animalesco, por acaso. Mas o povo auditivo gosta, paga bilhete e eu ganho o meu. Além disso sou famoso, o que é porreiro. Os meus pais têm orgulho em mim, não se importam que eu me drogue e dá para cortejar miúdas e até copular com elas, quando calha. É o poder da cena. Essa é que é essa. É a ditadura do prazer auditivo.

BS: Eu acho que a única coisa de jeito que o João Cesar Monteiro fez foi ter dito esse «quero que os portugueses se fodam», só porque os portugueses se aborreceram mesmo muito com ele. A casa da música custou 10 vezes mais do que o orçamentado, demorou mais 4 anos e anos e vai ser obliterada pela sede do bpn e... olha-me as mamas daquela gaja... Não olhes agora! Não olhes agora!... Agora olha, agora....

Guit: Maaaaaaaaann... Uh baby... Que bonito serviço! Aquilo também é arte, não? Se a Branca de Neve é arte... Eheheheh...

BS: eheheh aquilo é que é arte... Nós fazemos arte para ter acesso àquela arte ali... Aquilo é Deus. Ohhh... Virou a esquina... Bom, estava a falar do... Era do Benfica?

Guit: Whatever... O Benfica é sempre a mesma pôrra... De qualquer maneira, já vamos em quase 9 mil caracteres e isto é um blog, não é uma epopeia. A gaja era mesmo boa... Queres experimentar o descontrofone?
 
  Urgente
BAIXISTA PRECISA-SE!

Zona de Lisboa. Experimentação sonora. Mais informações para queridaguitarra@hotmail.com

Não é pornografia.
 
sexta-feira, abril 15, 2005
 
Para assinalar o aniversário, pedi a um crítico sério que fizesse uma crítica séria a um concerto a sério. Estou a falar a sério.


Lua de cerimónia
- os Tuxedomoon vistos por Vareta Funda

Há por aí gente a fazer muito boa música porque gosta muito de a fazer – é aquele talento da necessidade, visceral ou emocional, de transmitir qualquer coisa sólida, própria, e com maior ou menor valor. Neste campo, inscrevem-se muitos dos “meus grandes nomes”, dos meus artistas de eleição. Mas não são estes que hoje me interessam.

Há por aí pouquíssima gente a fazer muito boa música não pela necessidade de transmitir mas pela necessidade de procurar. Claro que a esta pouquíssima gente não são atribuídos discos de platina ou prémios da indústria. Isto é aquela gente “marginal” que se apropria seja do que for, desvirtua ou revirtua ou mascara tudo aquilo em que pega e procura construir uma linguagem que não nos é estranha mas que é nova. Neste campo, que eu me lembre de momento, inscrevem-se quatro dos “meus nomes grandes”: Laurie Anderson, Anette Peacock, a saudosa Penguin Café Orchestra e… os Tuxedomoon.

Anteontem, graças a duas boas pessoas, fui ao Fórum Lisboa para o concerto dos Tuxedomoon. Não fazia ideia do que me iria esperar: só tinha ouvido uns bocadinhos aqui e ali do álbum “Cabin in the Sky”, de 2004, e de álbuns anteriores só conhecia uma ou outra faixa em compilações (o “No Tears” e as diversas versões do “In a manner of speaking”). Conhecia, sim, as aventuras a solo de Steven Brown e de Blaine L. Reininger, autores, um e outro, de assinaláveis pérolas: “Searching for Contact”, do primeiro; e “Night Air”e “Byzantium” do segundo. Ou seja, a minha expectativa era quase virgem, como muitas das noivas de hoje em dia. Ia ali para ouvir. E ouvi.

Blaine Reininger, na voz, violino e guitarra; Steven Brown, na voz, teclados, clarinete, sax soprano e tenor; Peter Principle no baixo e programações; Luc van Lieshout no trompete, harmónica e feliscorne; e um tipo qualquer a filmar aquilo tudo com projecção em tempo real no grande ecrã do Fórum Lisboa. Os ingredientes não são muito incomuns, o som esteve quase irrepreensível, haviam condições para um bom concerto. Mas não foi. Não foi mesmo.

Um bom concerto é uma coisa agradável, de que se sai reconfortado ou excitado mas satisfeito e apaziguado. Felizmente, os Tuxedomoon não deram um bom concerto. Foi um concerto de interrogação e de procura, construindo melodias e linhas de baixo pulsantes para depois as destruírem ainda em harmonia mas num cânone oposto, como quem afirma que a música é assim e é bonita e é justa e é boa mas porque é que não há-de ser diferente? E foi diferente. Mais do que agradável, foi sublime – e quando acabou ficou não a tranquilidade mas a inquietude e a dúvida quanto ao que de repente parecia ser o atraso estrutural de muita da música que gosto de ouvir.

Há por aí muita gente que “experimenta” musicalmente: experimentam as “sonoridades electrónicas”, experimentam “linguagens do jazz”, experimentam uma “abordagem próxima da música concreta”, experimentam a “construção de novas atmosferas sonoras” e há quem experimente até a “integração da herança de Liggeti”. Os resultados quase sempre são desanimadores porque se parte para a experiência sem premissa de base e sem objectivo. Felizmente, os Tuxedomoon não “experimentam”: apenas constroem novas hipóteses musicais que vão legando desde 1977 a quem as quiser experimentar.
 
quinta-feira, abril 14, 2005
  Aniversários


Deve estar quase a fazer quatro anos e tal que a Casa da Música foi inaugurada, não?
 
quarta-feira, abril 13, 2005
  Melhor diálogo do fim-de-semana
Chegado de viagem, desembarquei em Santa Apolónia. Foi então que esbarrei com um estranho vagabundo...

(Vagabundo): Olhó Famoso!... Parabéns lá pelo aniversário do blog, pá.
(Eu): Desculpe, eu... (pausa; o vagabundo tinha ar de... coelho. Vestido de vagabundo, um coelho em andrajos... mas que raio?...) Errr... eu conheço-o?
(Vagabundo): Fod****, olha-me este. Lá porque és famoso... Deixa lá, que eu também já fui tão ou mais famoso que tu, ó palhaço!
(Eu, muito incrédulo): Peço imensa desculpa, não quero ofendê-lo, mas tenho que lhe perguntar isto... você é... errrr... você é um coelho?
(Vagabundo): Um coelho?! Um coelho o car*****, pá! Então não me reconheces, chavalo? Um coelho?! Eu sou O coelho. O!
(Eu): ... O da... Páscoa?

(Olhou-me com um ar violento; depois passou a desdenhoso e sorriu com uma certa maldade. Cuspiu para o chão.)

(Vagabundo): Se eu não fosse educado, aconselhava-te a levar na peida... O coelho, pá. O Coelhinho Tó, caramelo! Dasssssseeee...

(Bebeu de um pacote de cartão. Penso que não era leite nem iced-tea.)

(Eu): Coelhinho? É você, Coelhinho?
(Vagabundo): Deixa-te de merdas, ó mariquinhas... Trata-me por tu, que ainda 'tou aqui para as curvas, chavalo. Isto ainda funciona tudo (agarrou nas partes... e assobiou estranhamente entre os dentes, tipo 'vvssshhjjjjjiiiit')... eheheh...
(Eu): Coelhinho Tó... O Coelhinho Tó? O mito? Himself?

(Olhou-me com estranheza)

(Vagabundo): Hã?... Iá, o Coelhinho, é isso mesmo. (voltou-se para trás e gritou) Luisinha... ó Luisinha... Raisparta, fod****!... p'ra obedecer é do car****. Luisinha, anda cá, filha... (aproximou-se uma coelhita, de mini-saia e sandálias de verniz vermelho de salto alto) Vai arranjar uma coisinha fina p'rá janta que hoje temos convidado... Olha, e crava mais uns cigarritos... (para mim) Hoje vais conhecer a maison..
 
terça-feira, abril 12, 2005
  Aniversários
Houve uma vez que toquei na festa de aniversário de uma amiga de um dos elementos da banda - o baixista, neste caso. Falo, obviamente, da festa do 16º aniversário da Nini, que depois disso viria inclusivamente a ter uma "estreia promissora" no que à vida sexual diz respeito. Isto, segundo o depoimento fiável da testemunha e cúmplice do acto, o baixista "himself". Eu bem me parecia que o interesse dele em tocar baladas desonestas ("I should have known better", "Still loving you", "Love me tender"...) numa festa de aniversário repleta de adolescentes não adviria exclusivamente de uma motivação amistosa... Enfim. Quanto à "estreia promissora", posso afiançar que a análise do baixista foi séria, rigorosa e mesmo visionária. Parabéns Nini, tens um talento e pêras.

Na altura, a banda chamava-se Cornflakes For Dinner. Mais tarde, mudou para Cornflakes For Supper.

No fundo, o que eu queria dizer-vos é que isto dos aniversários não é exclusivo dos artistas. Pelo contrário: é uma coisa muito presente na vida de toda a gente. É uma onda meio democrática. A Nini gostava muito de fazer anos.




(Nini, feliz por ter recebido um ramo de flores, enfeitado com ervas, no dia do seu 16º aniversário. Foi uma grande festa.)
 
segunda-feira, abril 11, 2005
  Uma questão de tempo




O mundo está diferente. Durão Barroso foi nomeado presidente da Comissão Europeia, Santana Lopes chegou a primeiro-ministro, o PSD sofreu uma derrota histórica nas eleições legislativas, José Sócrates tornou-se primeiro-ministro, Jorge Sampaio dissolveu a Assembleia da República, George W. Bush foi reeleito, um terramoto no Índico e subsequentes tsunamis provocaram a devastação de várias cidades e aldeias do sudeste asiático, foi Natal, começou um novo ano, os Pixies vieram a Portugal e eu fui ver, Carlos Paredes morreu, Sophia de Mello Breyner morreu, Canto e Castro morreu, o papa João Paulo II morreu, a irmã Lúcia morreu, o Mark Lannegan voltou a Portugal e eu não fui ver, o FC Porto foi campeão nacional, o FC Porto foi campeão europeu, o FC Porto ganhou a taça Toyota, o FC Porto não ganhou a Taça de Portugal, quem lha ganhou foi o Benfica, a Grécia foi campeão europeia em Portugal, porque foi cá que se jogou o Euro 2004, mas os gregos fizeram lá no país deles os Jogos Olímpicos e fartaram-se de ganhar coisas, o Rock in Rio foi em Lisboa e eu não fui, mas veio cá a Britney Spears, o Sting, o Paul McCartney e o Ben Harper, fiquei surdo, voltei a ouvir, o Jorge Palma lançou um novo álbum, os Xutos também, os Garbage também, os U2 também, os The Gift também, até os EZspecial lançaram um álbum, os Green Day também e até nem fizeram mal, o Benfica contratou o Trapatonni ninguém sabe muito bem por quê, o Bloco de Esquerda tem mais deputados do que filiados no partido, o Carlos Carvalhas finalmente abandonou a liderança do PCP, o Jerónimo de Sousa ficou com o lugar do Carlos Carvalhas, o Álvaro Cunhal ainda está vivo mas muito pouco, o Marlon Brando é que morreu, o Príncipe Rainier também...

Há um ano atrás nasceu o Guitarrista Famoso e a sua Querida Guitarra. Bem podem agradecer-lhe e aplaudi-lo. Sorriam: ele faz um ano esta semana e haverá posts alusivos e outras cenas comemorativas. Parabéns para mim!...

 
  Garbage: o regresso


Não faço a menor ideia, a sério que não faço: não sei mesmo se o novo álbum dos Garbage vale cinco minutos de atenção. O que eu sei é que gosto muito que os Garbage lancem álbuns. Já há algum tempo que começava a sentir a falta da Shirley no écrã da minha televisão. Is good to have you back, baby...

 
quinta-feira, abril 07, 2005
  Mini entrevista
(Eu): Votre altesse, vous voullez laisser un dernier message maintenant qu'une nouvelle etape de l'existence, plus extra-mundaine, s'aproche de vous?

(Prince Rainier):
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(Eu): Vou pensez que Alberto seras un bom successeur?

(Prince Rainier): ./\./\.../\/\/\/\....../\./\../\./\........./\....._______________________
 
quarta-feira, abril 06, 2005
  Músicos freak


Aqui

vou

ser

fe

liz!!!
 
segunda-feira, abril 04, 2005
  Mini entrevista
(Eu): D. José, espere aí, D. José... D. José Policarpo, uma palavrinha para o Querida Guitarra...
(D. José Policarpo): Estou com um bocadinho de pressa, meu filho, tenho um avião para apanhar...
(Eu): Vai a Roma?
(D. José Policarpo): Ah ah ah... não, meu filho. Vou passar uns dias numa aldeola na Toscânia, muito bonita, muito bom vinho, muito bom povo... Mas, quer dizer, eventualmente... Enfim, quem tem boca vai a Roma, não é? Ora, eu tenho boca...
 
  Mini entrevista
(Eu): Leonel Pais, mais um espectáculo cheio de festa aqui na Asseiceira, muita gente, bonita procissão em honra de Nossa Senhora do Sofrimento Infinito. Leonel Pais, satisfeito com a sua actuação?
(Leonel Pais): Ah, sim... o órgão apanhou um bocadito de humidade e tal... é dos borriços...
(Eu): Leonel Pais, esse apelido... é da família do João Pedro Pais?
(Leonel Pais): Já sabia que me ia fazer essa pergunta... ah ah... Não, não, não... na verdade, o meu apelido nem é Pais... isto é apenas um nome artístico. É também uma bonita forma de homenagear os meus avós maternos.
 
  Mini entrevista
(Eu): ... (a correr)... Nuno Gomes........... Nuno Gomes................... (correr e arfar).................................. Nuno Gomes..............(arfar mais)................................... vitória difícil.................. (ir arfando).................................. dois golos.......................... importantes................................. o que pensa................................. da exibição?.............
(Nuno Gomes): We won like motherfuckers.
 
A música vista por dentro. A vida tocada em guitarradas ruidosas. Cuidado com o feedback.

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